"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

Seguidores

domingo, 30 de maio de 2010

Pensar e fazer

Olá!

Antes de mais nada peço desculpas pela ausência.

O tratamento com a medicação para depressão, está me fazendo bem, me sinto cada dia mais tranquila.

Porém não posso omitir a minha falta de habilidade para lidar comigo mesma.

É um sentimento indescritível.

Estou com uma necessidade incrível de obter minha realização profissional e financeira, como eu já havia comentado vivemos com o orçamento limitadíssimo e não conseguir trabalhar fora de casa me incomoda profundamente.

Tenho nível de escolaridade superior, sou considerada uma pessoa bem "articulada" e educada, mas sabemos que isso não é ítem para currículo profissional.

A minha incapacidade de me gerenciar emocionalmente me impede de querer estar mais uma vez interagindo socialmente, para mim é inconcebível ter reações infantis em público, chorar por motivos considerados relevantes, falar de forma inoportuna e inconveniente, e não ter nenhum "jogo de cintura" no trato social e nas atividades em grupo.

Pois bem, cheguei a conclusão de que tenho que desenvolver minhas habilidades manuais e produzir em casa algo para venda. Então fiz matrícula para um curso de costura, que ainda não começou.

Começará dia 02-06, e alguém poderá estar se perguntando se eu não tenho dificuldade para frequentar, não eu não tenho dificuldade para sala de aula, pois é uma atividade organizada com hora para começar e terminar e com papéis estabelecidos, ou seja tudo que é pré definido fica mais fácil para mim.

O que me dificulta é estar sozinha para desenvolver a atividade em casa sem um roteiro definido, muitas vezes me lembro da Temple Grandim (autista adulta) dizendo que passa mais tempo organizando as coisas na cabeça, fazendo listas do que propriamente executando, é exatamante assim que me sinto, penso muito e executo pouco, e esta luta entre pensar e fazer é extremamente desigual, pois minha mente normalmente vence.

Ter muito pensamento e pouca atitude é quase sempre considerado preguiça, bagunça, desânimo, falta de organização, falta de vontade, etc e um sem fim de atributos não muito fáceis de receber, e principalmente quando esta cobrança vem de mim mesma, eu não sou nenhum pouco tolerante com esta minha dificuldade.

Quase sempre é uma luta perdida, passo horas organizando a simples tarefa de dar banho na minha filha ou preparar uma refeição, passo horas estipulando, organizando, repassando cada passo da tarefa e as vezes levo o dia todo para decidir como lavar uma roupa com textura diferente das outras.

Isto sem falar das influências externas que podem acontecer e alterar meus "planos", uma mudança no clima, um telefonema inesperado, uma convocação para comparecer na escola da Anna, alguém que bate na porta, etc.

No trabalho com artesanato, como sou eu quem decido que peça vou fazer e qual material vou usar, vocês não podem imaginar a infinidade de possibilidades que ficam passando pela minha cabeça sem efetivamente serem executadas.

Eu preciso quebrar esta distância entre pensar e fazer, e quanto mais quero, mais eu penso e menos eu faço e assim fico neste círculo vicioso que me irrita, me angustia e me destrói.

Em breve relatarei a minha primeira aula no curso de corte e costura,

Abraços!

Grace Caroline.

tidymae@hotmail.com

domingo, 16 de maio de 2010

A diferença entre ajuda e tratamento!

Olá!

Estive afastada uns dias para reflexão.

Há algumas semanas eu enviei um e-mail gigantesco para uma pessoa que conheci através do blog, ela é estudante de psicologia e uma estudiosa do Autismo, uma pessoa fantástica, não citarei seu nome por uma questão de ética, não sei se ela gostaria.

Enfim o e-mail era uma queixa enorme pois eu estava sem saber o que fazer para quebrar minha reclusão que se intensificou depois do retorno para minha cidade de origem e a qual passei mais da metade da minha vida e meus piores momentos.

Recebi a resposta da minha amiga querida, e ela dizia uma coisa muito simples, que eu não precisava de ajuda e sim de tratamento, e como eu não tenho acesso a tratamento como milhares de autistas de alto funcionamento no mundo, sabemos que esta é a realidade por enquanto.

Eu li um livro também por indicação desta amiga, o título é "Síndromes Silenciosas" (de John J. Ratey e Catherine Johnson, Ed. Objetiva), onde tive um grande esclarecimento sobre as causas orgânicas de alguns transtornos.

Eu sofro de depressão endógena, também diagnosticada como depressão crônica leve, ou distimia, e fibromialgia(dor crônica), há 20 anos que tento tratar e obviamente me curar, porém antes da minha descoberta do autismo na minha vida, tratar a depressão era como um paliativo, pois traziam melhora mas não eliminavam a causa, que era esta confusão mental que eu não sabia a origem.

Pois bem, eu já havia até comentado aqui no blog que eu não queria mais tomar antidepresivos, porém os remédios para dor era impossível abrir mão.

O comentário da minha amiga estudiosa me colocou de frente com a realidade, eu realmente preciso de tratamento, ela sugeriu que continuasse com minhas pesquisas e leituras sobre o assunto até encontrar algo.

E eu tive uma real vontade de procurar ajuda, como eu não tenho acesso a tratamento para conviver com minha condição autística, eu fui ao posto de saúde e pedi tratamento para minha depressão e retomei o uso da medicação, foi incrível a diferença, antes eu melhorava mas não acalmava o coração e a mente, agora além de melhorar a cabeça eu diminuí quase a zero o uso de analgésicos e anti-inflamatórios.

Sinto que pela primeira vez esta valendo a pena o esforço de me ajudar, vejo a tão sonhada LUZ no fim do túnel cada vez mais próxima.

É incrível a veracidade de frase: Conhece-te a ti mesmo!!
Que tem esta oportunidade, pode mudar o mundo!!O seu próprio mundo!!

Serei eternamente grata pelas amizades que fiz através do blog e que Deus abençoe e proteja a todos sempre!!!

Abração!!
Grace Caroline

tidymae@hotmail.com

sábado, 8 de maio de 2010

Feliz dia das Mães!!

Mae e filha Parabéns a todas as mães do universo!!!
Que Deus abençoe a todas!!
Abraço grande!
Grace e Família.

Os filhos são para as mães as âncoras da sua vida.
(Sófocles)
fre anna 2010 pequena

quarta-feira, 5 de maio de 2010

As consequências da ausência do conhecimento!!

Olá!

Quando eu escrevo textos que descrevem a minha insatisfação comigo mesma, eu fico sempre com a sensação de que não era aquilo que eu tinha que escrever, e desta vez eu entendi o porque.

Eu não quero colocar o autismo como a causa da minha falta de auto estima, o que eu quero contar para todos vocês é o que acontece quando não se sabe a origem das coisas.

As pessoas normalmente não se queimam no fogo porque aprenderam de alguma forma que ele é quente, então ninguém fica em dúvida se em algum momento o fogo pode queimar ou não. Ninguém ultrapassa o sinal vermelho de um semáforo pois sabe o perigo que isto oferece.

Ninguém perde horas intermináveis pensando se o fogo é quente ou se o sinal vermelho pode estar informando outra coisa que não o alerta para parar. Fazer isto seria no mínimo constrangedor, mas é mais que isto, é estressante, é cansativo, é perturbador, cansa, aborrece, irrita e muitas vezes impossibilita.

Então imaginem o que seria se alguém nunca conseguisse assimilar que o fogo é quente, pois é assim que eu me sinto, eu nunca consigo assimilar quando eu tenho que falar ou calar, quando é hora de ir embora ou quando é hora de ficar.

Eu até aprendi as convenções e regras, porém isso me fez ter certeza de que eu não possuía capacidade para segui-las, ou seja eu sempre tive certeza de que estava indo contra o que se esperava, tinha consciência mas não conseguia alterar a maneira de agir.

A inabilidade para enfrentar o mundo acabou com minha auto imagem e isto foi a comprovação da minha incompetência para ser apta socialmente.

Hoje eu tento resgatar o meu respeito por mim mesma, após a descoberta do autismo, desta falta de aptidão para me relacionar, eu tento me perdoar a cada crise de desespero quando percebo que mais uma vez estou me comportando de forma infantilizada ou inadequada.

Acredito que continuo no começo do fim deste período de "cegueira" de mim mesma.

Este vídeo é muito interessante e eu acredito muito que somos o que pensamos!



Abraço grande e até a próxima!
Grace Caroline

tidymae@hotmail.com

Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


Publicações do blog (arquivo):