"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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quarta-feira, 5 de maio de 2010

As consequências da ausência do conhecimento!!

Olá!

Quando eu escrevo textos que descrevem a minha insatisfação comigo mesma, eu fico sempre com a sensação de que não era aquilo que eu tinha que escrever, e desta vez eu entendi o porque.

Eu não quero colocar o autismo como a causa da minha falta de auto estima, o que eu quero contar para todos vocês é o que acontece quando não se sabe a origem das coisas.

As pessoas normalmente não se queimam no fogo porque aprenderam de alguma forma que ele é quente, então ninguém fica em dúvida se em algum momento o fogo pode queimar ou não. Ninguém ultrapassa o sinal vermelho de um semáforo pois sabe o perigo que isto oferece.

Ninguém perde horas intermináveis pensando se o fogo é quente ou se o sinal vermelho pode estar informando outra coisa que não o alerta para parar. Fazer isto seria no mínimo constrangedor, mas é mais que isto, é estressante, é cansativo, é perturbador, cansa, aborrece, irrita e muitas vezes impossibilita.

Então imaginem o que seria se alguém nunca conseguisse assimilar que o fogo é quente, pois é assim que eu me sinto, eu nunca consigo assimilar quando eu tenho que falar ou calar, quando é hora de ir embora ou quando é hora de ficar.

Eu até aprendi as convenções e regras, porém isso me fez ter certeza de que eu não possuía capacidade para segui-las, ou seja eu sempre tive certeza de que estava indo contra o que se esperava, tinha consciência mas não conseguia alterar a maneira de agir.

A inabilidade para enfrentar o mundo acabou com minha auto imagem e isto foi a comprovação da minha incompetência para ser apta socialmente.

Hoje eu tento resgatar o meu respeito por mim mesma, após a descoberta do autismo, desta falta de aptidão para me relacionar, eu tento me perdoar a cada crise de desespero quando percebo que mais uma vez estou me comportando de forma infantilizada ou inadequada.

Acredito que continuo no começo do fim deste período de "cegueira" de mim mesma.

Este vídeo é muito interessante e eu acredito muito que somos o que pensamos!



Abraço grande e até a próxima!
Grace Caroline

tidymae@hotmail.com

3 comentários:

  1. Temos que nos conhecer mas essa não é a tarefa mais difícil. Temos que nos conhecer e gostar de nós mesmas. Se não gostarmos, quem vai gostar? A partir do dia que aceitarmos nós mesmas com nossas qualidades e defeitos e procurarmos a evolução, estaremos abertas a conhecer o próximo, ter contato com outras pessoas. Ter feito esse blog foi um grandioso passo pois vc expõe os sentimentos e acaba fazendo uma auto análise de tudo, mesmo com as dificuldades. Aconselho a fazer terapia, conversar com alguém que não nos julga é importantíssimo. E o terapeuta faz a gente questionar nossas atitudes.

    Eu falei no plural, no começo do comentário, porque eu tbm já passei por isso e as vezes passo... vontade de fugir de mim mesma, vontade de ficar quieta, sem ter a companhia dos meus pensamentos.

    Como TDAH, minha cabeça não pára um minuto e acabo sendo afobada e querendo falar tudo que penso sem selecionar o que eu deveria realmente falar e o que eu devia realmente só pensar e as vezes machuco as pessoas por falar na cara o que eu acho...

    Equilíbrio é a palavra correta... devemos nos conhecer, colocar na balança (pega um papel, escreve de um lado qualidades, de outro defeitos e escreve tudo sobre vc) tudo de bom e ruim e tentar equilibrar os dois lados. Evolução sempre, procurar o caminho do bem, de dar a outra face, de compreender o próximo, ser carinthoso, ter um tempo pra nós mesmas, ter tempo pra família,...

    E devemos errar... se errar é porque estamos tentando!

    Beijos!

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  2. Sim,. a falta de conhecimento é prejudicial e por isso um diagnóstico é tão importante... para não crecermos achando a vida inteira que somos incompetentes por uma coisa que não somos... por isso a importância desse blog, de todos os blogs, de todas as maneiras de divugar o autismo por todo o Brasil e mundo... Estamos lidando com uma sindrome de interesse de poucos médicos e profissionais e temos que pesquisar por vontade própria e irmos a luta e espalharmos oque aprendemos... fico pensando no passado quando autismo e esquisofrenia eram a mesma coisa... que~nada se sabia sobre os varios niveis do autismo, que o tratamento era uma coisa que não existia... por isso sou fã da Cláudia Marcelino que começou numa época tão escura e trouxe muitas informações mastigadas pra gente... ela e poucas outras pessoas... aproveito esse espaço para homenageá-la

    Bom, adorei o seu texto e pode ter certeza que não é a única que se sente assim! Ê, bem vinda ao mundo das pessoas que tem hora que tem vontade de explodir as regras e convensões, hahahahahahaha! Mas vc tá certa, devemos nos adaptar e procurarmos ser felizes!
    Feliz dia das mães pra vc amanhã!

    beijos

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  3. Amiga, obrigada por fazer parte do movimento Orgulho Autista Brasil! Teu Blog é incrível. Uma lição de vida para esta avó que esta sempre tentando entender e alcançar seu neto querido. Escreva por lá também. Conte sua história, garanto que vai ajudar muita gente! Fica em paz. Te encontro no site do MOAB. Bjs
    Maria Lúcia (MARA)

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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