"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Inteligência emocional


"...O ciclo do autismo é extremamente frustrante para os pais e para os seres amados, claro, pois o que parece "melhora" ou "aprendizado" com muita freqüência revela-se apenas o ponto alto de uma montanha-russa de onde não se pode sair."

"...Há uma coisa chave no autismo. O que quer que aconteça na sinapse química daquele dia, não é aprendizado de uma experiência passada."

"..Referimo-nos a aptidões sociais como se a delicadeza fosse de fácil aquisição e uma simples aptidão, como andar de bicicleta ou dirigir um carro, que qualquer pessoa de razoável estrutura pode logo aprender."

"...A leitura mental(os britânicos chamam esta capacidade de mentalização) é um talento fundamental comum em todos os cérebros normais. Temos de ler continuamente a mente dos outros para funcionarmos como seres sociais: para saber quando são ou não receptivos, se gostam ou não de nós, se são amigos ou inimigos."

(Trechos extraídos de: John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas, p.235 Ed. Objetiva)


Segundo os autores do livro acima citado, nós autistas mesmo sendo de extremo alto funcionamento não fazemos esta "leitura mental", chamam de "cegueira mental", ou seja o autista não aprende estas habilidades sociais, pode até ser treinado, mas provavelmente o que ficar fora do treino vai ser de forma inadequada para os padrões.

Não conseguimos identificar nas pessoas nenhuma informação que nos faça interagir de forma a satisfazer nossas necessidades, sempre sofremos profunda frustração ao nos relacionarmos, seja com a resposta que recebemos ou com a resposta que damos, pois quase sempre esta resposta é inadequada e esta cegueira nos impede de perceber e isto nos deixa sem chão.

Não conseguimos sequer saber quando nos dão a deixa para falar em uma conversa.

Hoje eu passei mais um vexame, ao falar para uma pessoa exatamente o que eu pensava e eu sabia que a minha opinião poderia não agradar e mesmo assim eu não consegui evitar.

Que sensação desesperadora, eu tive vontade de morrer, afinal tenho 38 anos e acabo me comportando como uma menina de 4 anos que diz tudo que pensa.

Isso sempre acontece quando a conversa envolve opiniões próprias e sentimentos, aí podem ter certeza a "desgraça" é certa!!!

Me dá uma vontade de sumir, de nunca mais ter que falar pessoalmente com ninguém.

Posso obter quase todo tipo de conhecimento, desenvolvo múltiplos talentos, mais eu não possuo inteligência emocional, eu não tenho a capacidade de reconhecer meus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles.

Sei que muita gente pode até discordar disto, mas infelizmente isto não é a minha opinião, é a minha condição.

E posso afirmar que eu luto diariamente para obter qualquer noção que seja desta inteligência emocional tão sonhada, inclusive escrever este blog é uma das coisas que estou fazendo para sair deste meu mundo as vezes muito frio e solitário, é um mundo do Bem pois é quase impossível encontrar mentira, trapaça e enganação por aqui, porém me falta a leveza, parafraseando Milan Kundera me falta a "Insustentável leveza do ser".

O contato verbal e pessoal para mim é muito difícil e doloroso, é que por eu ser "verbal", eu falo demais e isso me envergonha, eu fico sempre "monologando" isto me aborrece e me expõe.

Eu me sinto como se fosse aquela pessoa que tem o vício do jogo, e que promete não apostar mais e quando sai com dinheiro a primeira coisa que faz é apostar, e depois ter a certeza de que aqueles minutos não voltam mais, que aquele dinheiro não volta mais, ou que aquelas palavras ditas de forma impulsiva não voltam mais para dentro da minha boca.

Eu sempre acredito que na próxima vez eu vou conseguir falar a coisa certa.
E sempre falo a coisa errada.
E quando me calo também é na hora errada.

Enquanto ainda disponho da forma escrita eu continuarei tentando.

Abraços e fiquem com Deus!

tidymae@hotmail.com

4 comentários:

  1. Sabe, fico emocionada te lendo! Continue lutando! Eu te considero uma vencedora. Teus filhos são lindos! Minha filha é autista não verbal e eu adoraria que ela falasse, dissesse qualquer coisa... E qualquer coisa que dissesse seria correta pra mim! Sofro muito por ela. É HORRÍVEL NÃO PODER FAZER-SE ENTENDER! E tu podes! E viva tua sinceridade! Visite o Blog que fiz pra minha filha: http://luaremversos.blogspot.com/

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  2. Grace...
    Pessoas se tornam especiais por suas singularidades, não pela sua "normalidade". O que posso te dizer é que foi um prazer te conhecer.

    Um beijo.
    Elis.

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  3. Imagino como nestas alturas se deve sentir deprimida, mas caramba você não tem culpa, nem sei o que lhe dizer, sinto-a muito triste.

    Deixo um beijinho e não pense mais nisso, já passou!

    Ana Martins

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  4. Grace
    Vc ter ciência desse comportamento, é uma dádiva!
    Aos poucos vc deve ir treinado, "Praticando", não adianta te isolar, pois é uma pena, pq vc é única , especial.
    Vc já pensou em fazer trabalho voluntário na escola especial da tua filha? Tem mais autistas por la? Uma hora por semana? Pensa nisso! Es muito bela pra ficar isolada em casa.Pensa nisso!

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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