"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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terça-feira, 30 de março de 2010

Reencontro ou outra despedida?

Feriado se aproximando.
Páscoa.
Desde as férias de verão que eu não vejo meu filho.
Estamos com viagem marcada para este feriado.
Já comecei montar uma "estratégia infalível" para conseguir viajar, estar com meus pais, meus irmãos, rever meu filho e novamente me despedir. É sempre como se fosse a primeira vez que vamos nos despedir.
As pessoas acham que antes de eu ter o prazer de estar com meu filho eu já fico pensando na despedida, e isso me faz passar por pessimista, mas é a "tal" necessidade de ter o mínimo de controle, para não entrar em crise.
Sei lá.
Quero tanto contar pra vocês o que eu sinto as vésperas de um evento desse, mas acho que estou com dificuldade.
Só em pensar que vou deixá-lo novamente, trava qualquer "raciocínio lógico".
Escrever hoje está difícil.
É a razão derrotada pelo coração...

tidymae@hotmail.com

domingo, 28 de março de 2010

DESCONCERTANTE

Desde pequena amo o azul.
Hoje soube dos índigos.
Dos cristais.
Somos diferentes.
Temos cor.
Temos outro jeito.
Eu entendo facilmente teorias complicadas e
manuais de instruções que muitas vezes traduzo.
Mas não consigo perceber quando é a hora de falar ou calar.
Sempre vejo as pessoas de forma simplificada demais, quando querem ser vistas de maneira requintada.
Tento ser requintada quando deveria ser simples.
Erro sempre quando o assunto é abstrato, sub-entendido, velado...
Hoje entendo todas as minhas perdas,rejeições:
Sou desconcertante.
No dicionário desconcertante é:
Algo ou situação que te desconcerte,
que lhe tire a atenção,
que te faz por alguns segundos
perder o poder de raciocínio.

Deixamos as pessoas se graça, com nenhuma intenção de fazer isto, sem nenhuma maldade, sem rebeldia, sem intenção de vingança, sem querer ser "certinho" o tempo inteiro.
As vezes me dá vontade de somente por um dia poder dissimular, ter o real poder de controlar minha verdade!!
E assim passar ilesa, incólume, sã e salva da minha sinceridade.
Me falta a empatia no sentido literal, no entanto me explique a tua situação e te compreenderei
e com certeza não omitirei nada do que sinto...
Serei sincera,
verdadeira,
prestativa,
companheira,
amiga fiel,
mas nada disso me impedirá de ser
desconcertante...

tidimae@hotmail.com

sexta-feira, 26 de março de 2010

Eu e minha filha (1)

Os profissionais da escola especial(APAE) que a minha filha freqüenta sempre elogiam a maneira que eu me relaciono com ela e me dizem que ela é uma criança autista com um comportamento bem legal, dentro das suas limitações, é claro.
E eu somente faço com ela o que eu gostaria que tivessem feito comigo, então não via muito mérito nisso.
Esses dias tive uma surpresa:
Eu estava pesquisando no "YouTube" sobre os transtornos invasivos do desenvolvimento, e um vídeo sobre autismo revertido sempre aparecia na lista, até que resolvi abri-lo, e para meu espanto o homem que dizia ter revertido o autismo era o menino que inspirou a história do livro "SON RISE", e que se transformou no filme "Meu filho, Meu mundo", e posteriormente no método para tratamento de crianças autistas o método Son-Rise.
Quando era criança assisti junto com minha mãe o filme, nunca mais esquecemos, comentamos este filme ao longo de nossas vidas sem nunca nos dar conta de que eu podia ser autista, pois eu não tinha aquela estereotipia toda e usava linguagem verbal.
E eu assisti também os vídeos com as instruções básicas do método, que foram publicados no "YouTube" pelo site "Inspirados pelo Autismo", inclusive eles também publicaram o filme legendado divido em partes.
Fiquei emocionada pois o método desenvolvido tem muita semelhança com a maneira que eu me relaciono com minha filha, foi fantástico, pois eu não sabia se estava agindo de maneira correta, as vezes eu me perguntava se juntando-me a ela eu não estaria "incentivando" que ela ficasse mais fechada ainda, e descobri que é exatamente o contrário, quando conseguimos nos juntar a eles é quando eles sentem-se seguros para vir para o "nosso mundo".
Eu não só recomendo como faço um apelo para os pais de crianças com transtornos invasivos do desenvolvimento(autismo, Asperger, etc) que assistam os vídeos com as noções básicas, vou disponibilizar aqui no blog, dois vídeos, o que mostra o menino que inspirou o filme e hoje em dia trabalha na ajuda de pais e crianças autistas, e outro vídeo com a introdução do método e neste vocês encontram os outros vídeos relacionados.
Quem ainda não conhece, vale a pena conhecer, pois para a rotina diária, ajuda demais.
Eu sei que atualmente existem vários métodos para se trabalhar com as crianças e todos tem seu valor, mas este é como se fosse um complemento de todos os outros, pois ajuda juntar-nos a elas de uma maneira especial, e eu posso dizer que se for usada os resultados são muito bons.

Quero também me solidarizar com os pais que não são autistas, eu sei que para mim é fácil distinguir entre uma crise de raiva por dificuldade, e uma crise por birra, pois sendo eu autista e meu marido Ásperger, para nós é de certa forma mais fácil, mas como nossa filha ainda não usa linguagem verbal, temos que nos esforçar muito para ajudá-la.

“ A vida deveria ser mais que seguir comandos; ações e expressões deveriam ser mais que treinamento e um meio para um fim. A vida deveria, em algum momento, ser uma recompensa por si mesma. ” Donna Williams, uma pessoa adulta, com autismo (1996, pg. 128). Em Autism - an Inside out Approach”.


Abraço fraterno e fiquem com Deus!
tidymae@hotmail.com

quinta-feira, 25 de março de 2010

O reencontro com meu filho após 6 anos, e novamente a separação...

Para quem leu a postagem "Cultivar o jardim!", eu gostaria de contar mais um trecho dessa fase que eu descrevi:
Quando eu vim de Brasília para o nascimento da minha filha, existia uma alegria muito grande por eu estar novamente com meu filho.
No primeiro contato que meu filho teve com meu marido ele foi rejeitado prontamente pois ele não tolerou a maneira como eu me relacionava com meu filho, disse que eu o mimava muito, desconsiderando que estávamos eu e meu filho separados por seis anos.
E ainda tinha o agravante que meu filho tem um comportamento muito adulto para a idade dele, vive muito isolado e isto o faz parecer antipático, hoje eu sei que ele é Asperger.
Eu perdoei meu marido pois ele se desculpou um tempo depois, quando tentamos trazer minha enteada de 6 anos para morar conosco e não deu certo, depois de seis meses de tentativas frustradas ela teve que voltar para a casa de minha sogra.
Os motivos da impossibilidade da minha enteada ficar morando com a gente foram vários: o pai(meu marido) trabalhava de dia estudava a noite a semana toda e ela não admitia que tinha que ficar comigo.
Nesta época morávamos num apartamento e minha filha tinha 1 ano, e minha enteada era acostumada a brincar ao ar livre, pois morava em Planaltina-DF onde faz calor o ano todo e isso propiciava esta liberdade.
E sem falar que os ciúmes, da irmã mais nova e da nova esposa do seu pai (esta que vos escreve) neste caso começaram a ficar num grau insustentável até que tivemos que pedir ajuda profissional, ela começou a ter problemas sérios na escola, etc...E ela também achou que por ser uma cidade litorânea, onde morávamos na época, freqüentaria praia o ano todo, mas aqui no sul só temos praia nos tres meses de verão, o resto do ano é muito frio.
A escola dela solicitou acompanhamento psicológico e a psicóloga solicitou a participação do meu marido, só que ele trabalhava de dia e estudava a noite e não pôde dar a assistência que ela merecia por ter somente seis anos,então eu a acompanhei em todo o tratamento, mas por mais que meu marido tentasse ele não conseguia juntar-se a nós neste processo, então a psicóloga mandou ele escolher entre ele tratar dela ou levá-la de volta para minha sogra, pois sem a participação do pai o tratamento não poderia ser feito.
Resultado fui responsabilizada pela volta da minha enteada, pois como meu filho estava na mesma cidade e não freqüentava minha casa, presumiu-se que eu não apoiei a minha enteada para ficar por ciúmes, e o pior, como eu realmente tinha muita dificuldade com ela fui acusada de não permitir que ela se adapta-se.
Com isto o casamento ficou por um fio, resolvemos nos reconciliar e fizemos todos os pedidos de desculpas cabíveis, e estamos conseguindo manter nosso casamento pelo propósito de fazer nossa vida dar certo.
Até aí morávamos na mesma cidade, mas meu filho na casa da minha mãe, e nós em outra casa com a nossa filha.
Esta irmã foi muito esperada por meu filho.
Ele sempre dizia que queria ter uma irmã.
Passamos tres anos e meio na mesma cidade, cada um na sua casa, no entanto a relação com a minha mãe não era nada amistosa, e ficava cada dia pior pois minha filha ainda sem diagnóstico era comparada a mim o tempo inteiro, e nos tratavam como duas insuportaveis.
Quando veio o diagnóstico dela, procuramos tratamento na saúde pública e obviamente não encontramos, estávamos numa cidadezinha litorânea quase sem recurso.
Foi aí que veio a informação que a APAE da minha cidade natal, que fica 300Km de onde eu estava morando perto do meu filho.
Eu já conhecia a instituição e sabia que tinha uma tradição muito grande, que funciona como escola especial e é muito bem assistida pela sociedade local e era uma das poucas APAES do Brasil que havia conseguido fazer convênio com o SUS, e recebera 22 profissionais no seu quadro de funcionários.
É fantástico o trabalho desenvolvido nesta instituição.
Porém, eu e meu filho nos separamos novamente.
Foi muito pior que da primeira vez quando ele tinha 3 anos, nesta separação ele estava com 13 e precisava muito mais de mim, estávamos morando na mesma rua e nos víamos quase todo dia.

Quando veio o momento de decidir qual seria o tratamento da minha filha, eu tive a sensação de que estava optando por um dos dois, eu não desejo isso para ninguém no universo.
Meu filho não queria vir para esta cidade por causa do frio, ele passou sua infância aqui, disse que não gosta daqui e também por não querer sair da casa da avó.
Na hora que tomei a decisão meu filho ficou abalado, mas passado o primeiro impacto ele bravamente me incentivou e disse que nossa nova separação seria por uma causa justa, o tratamento da sua irmã tão querida, mas eu sei que ele sofre calado com nossa ausência.

Hoje nos comunicamos pela internet, e eu percebo que ele está cada dia mais fechado no seu próprio mundo, no seu quarto com seu computador, na sua "tática de auto isolamento", tática que foi desenvolvida por ele para obter êxito nos seus estudos quando reprovou na quinta série, porém a tática agora não é usada só na escola, mas em tempo integral.
Eu tenho 4 irmãos adolescentes(ao todo somos em 8 irmãos, e eu "A primogênita"), que são "tios-irmãos" do meu filho, e moram também, todos com minha mãe, e comparam meu filho como um senhor idoso, e dizem que ele fala como se tivesse lendo um texto ou um livro, meus irmãos ficam perguntando se ele algum dia vai ter amigos e sair de casa.
Eu converso muito com ele sobre isso, e nas últimas férias, no verão, que passamos um tempo junto, e já fazia 6 meses do diagnóstico da irmã dele, e com todas os meus estudos fiquei sabendo que ele tem síndrome de Ásperger, então expliquei tudo para ele, e percebi que ele acalmou o coração, pois ele queria saber porque não era igual as outras pessoas da idade dele.

A nossa mudança aconteceu em junho/2009, eu vim antes do meu marido, fique morando de favor na casa de um familiar, era final do semestre e meu marido cursava engenharia elétrica com bolsa integral do PROUNI e tinha compromisso com seu emprego.
No segundo semestre a empresa que ele trabalha o transferiu para a região onde iríamos morar, alugamos uma casa e ele veio morar conosco, só que aqui além de não ter o mesmo curso, a universidade ainda não tinha convênio com o PROUNI, então ele transferiu para um curso similar, mecatrônica, e tentamos pagar algumas matérias, mas isso arrasou com nossa vida financeira. Resultado, no início de 2010 ele resolveu trancar a faculdade e esta esperando o convênio com o PROUNI ser aprovado este ano, a bolsa pode ficar trancada por dois anos.

Minha família tentou me consolar dizendo que pelo menos desta vez não ficaríamos 4000 KM de distância, que desta vez seriam "SÓ" 300 KM, mas o fato é que vivemos longe dos nossos filhos mais velhos.
Eu e meu marido convivemos com esta ausência que dilacera a alma, com a culpa que tentamos desesperadamente não transferir para a nossa caçula, que enfrenta tudo isso como um verdadeiro anjo.
E temos mais dois anjos guerreiros que são a minha enteada que hoje ainda está com minha sogra agora no norte de Minas Gerais, e meu filho que mora com minha mãe no litoral.
E nós três nesta cidade serrana do sul do país, onde o frio já dá os ares de sua graça...
E faz muito, mas muito frio mesmo durante seis meses.
E eu que achei que nunca mais retornaria para a cidade onde nasci e passei os piores dias de minha vida, aqui estou escrevendo minha história... e aprendendo a me reconciliar com todas as coisas do céu e da terra!!!Como disse Massaharu Taniguchi fundador da Seicho-no-Ie, filosofia oriental que também já me ajudou muito!

Muito obrigada a todos que lêem meus relatos, e saibam que seus comentários são uma riqueza para mim, me dão o ânimo que necessito para enfrentar o isolamento e os desafios diários.

Abraço forte!
tidymae@hotmail.com

AZUL PARA COMEMORAR!!! 02 DE ABRIL DIA MUNDIAL DA CONSCIENTIZAÇÃO DO AUTISMO

Estou repassando informações importantes que estão sendo veiculadas pela internet, este texto é do blog Caminhos do Autismo(http://caminhosdoautismo.blogspot.com/) da Amanda Bueno.

Na noite de 1 de Abril o prédio Empire State em NY estará acesso com luzes azuis em conscientização sobre o dia do Autismo em 2 de Abril.

Estão surgindo e repassando a campanha no resto do mundo para que todas as pessoas possam acender uma luz azul em suas casas.Outros prédios por todo o país e o resto do mundo estará acendendo luzes azuis.


Coisas que vc pode fazer para ajudar na conscientização do autismo:

1 - Usar o pin azul com o desenho de uma peça de quebra cabeça durante todo o mês de abril e qdo as pessoas perguntarem vc, vc pode falar sobre o autismo e o pq vc esta vestindo.

2- Mudar as fotos do orkut e perfil no twitter ou facebook com a peça azul do quebra ou com o logo da campanha light it up: Blue e repassar para 10 amigos.

3- Digitar todos os seus emails em AZUL e colocar o logo Light It Up Blue na assinatura durante todo o mês de Abril.

4- No dia 2 de Abril vestir uma peça de roupa azul, camiseta ou calça e pedir pra seus amigos, familiares ou colegas de trabalho pra vestir tbm e tirar fotos e repassá-las, pra gente aqui no grupo tbm !! Se possiível colocá-las nas galerias do Flickr,orkut,twitter,facebook.

5- Cozinhar um bolo com o desenho da peça de quebra-cabeça Azul, preferencia todo em azul e levar pra escola, pro trabalho e dividir com seus amigos explicando o pq.

6- Igrejas, Congregações, avisar aos responsáveis para que falem do dia em seus Cultos, Missas e Celebrações, etc.


Vou colocar um fundo azul no blog em homenagem!!!!
Abraços!
tidymae@hotmail.com

terça-feira, 23 de março de 2010

Cultivar o jardim!

Diz um trecho de Mario Quintana que devemos cultivar o nosso jardim, e não correr atrás das borboletas, pois assim elas virão naturalmente.
Pois bem, o meu projeto é este: Cultivar meu próprio jardim, ou seja, aprender a cuidar de mim mesma.
Uma nova amiga que conheci a pouco por causa do blog me disse que o fato de descobrirmos esta situação somente nesta altura da vida é no mínimo constrangedor.
Mas o fato é que estou tão aliviada que nem me sinto constragida, é como se eu tivesse tomado posse da minha própria vida!!
Tomar posse.
E agora?
A minha primeira meta é acalmar minha cabeça, minha mente.
Várias vezes por dia eu sinto minha mente está indo embora.
A confusão mental é tão grande que eu temo me ausentar de vez.
Ansiedade.
Medo.
Falta de motivação.
Prostração.
É claro que o intuito de escrever este bolg não é criar um muro de lamentações particular, mas no momento eu preciso muito dividir estes momentos para que meu viver possa ficar mais leve.
Leveza e tranqüilidade são dois atributos que NUNCA fizeram parte da minha rotina.
Ontem eu terminei a leitura das 89 páginas que estão disponíveis para leitura no "Google Books" do livro SÍNDROMES SILENCIOSAS: COMO RECONHECER AS DISFUNÇÕES PSICOLÓGICAS OCULTAS Por JOHN J. RATEY,CATHERINE JOHSON.
Encomendamos o livro, e em breve espero concluir minha leitura.
Neste início de leitura aprendi muito sobre a minha condição.
Fiquei impressionada com a narrativa que ia sempre de encontro com minhas vivências, inclusive eu havia revelado em uma publicação anterior sobre a maneira que eu havia encontrado para "sobreviver" dentro desta ignorância toda que foi minha vida até agora, que é o lema: Viver um dia de cada vez!"
E no livro o autor fala que este lema realmente ajuda muitas pessoas, mas que quem vive assim encontra dificuldade para vislumbrar algum futuro.
É exatamente o que mais me angustia, e meus projetos? E meus desejos?
Como vou ter minha independência se todas as noites eu preciso me livrar de QUALQUER expectativa
para diminuir a insegurança, o medo, a ansiedade...
A minha grande descoberta foi o nome do meu arquiinimigo, ele se chama Ruído Mental.
Sabem o que é ter vivido 38 anos com uma multidão gritando dentro da sua cabeça, é com se eu estivesse com um trio elétrico dentro de mim 24 horas por dia.
Os autores do livro descrevem perfeitamente o que este ruído é capaz de fazer com qualquer ser humano, elas fazem uma analogia entre o stress fisiológico e o stress mental que acontece com as pessoas que convivem com o ruído mental, e ele é comum a todas as sombras mentais, que são as formas mais brandas das patologias graves.
A pessoa portadora de doença mental grave se enquadra no diagnóstico e tratamento padrão existente, e nós portadores da sombra mental ou "forme frustre" como foi chamada antigamente recebe a sentença de PESSOA DIFÍCIL e se vê obrigada a viver dentro das regras pré estabelecidas ou mesmo tendo que seguir os famosos preceitos, ordens dadas como regra de conduta:
" A vida é assim mesmo!"
" Seja otimista!"
" Não tem bem que nunca termine, nem mal que nunca se acabe!"
E assim vai a infinidade de "incentivos" que recebemos durante toda a vida, só que por mais que nos esforcemos o nosso "mal" nunca se acaba!! A cabeça não para, a mente não acalma nunca e quanto mais tentamos seguir alguns destes lemas mais frustrados ficamos.
O que acontece com a gente que vive sem o diagnóstico é que somos enquadrados na categoria dos "pessimistas por opção", "pessoas difíceis", "negativos de plantão".
Para me livrar deste estigma, há uns 15 anos atrás eu procurei ajuda médica no sistema público de saúde e um ginecologista me prescreveu bromazepan 6mg, remédio ansiolítico de tarja preta, aí foi a derrota mesmo, vieram as tentativas de suicídio(foram 3 tentativas) e as maiores decepções da minha vida,foi neste período que deixei meu filho com minha família e fui embora para uma cidade que ficava no nordeste do país, quase 4.000 Km de distância da minha cidade de origem.
Sofri neste período mais do que sofri minha vida inteira.
Neste período minha avó me sugeriu por telefone que eu tomasse um remédio que o médico tinha prescrito para ela no desencarne do meu avô, era uma novidade o remédio, a tal de "fluoxetina", nem lembro como consegui receita para esta medicação, pois não é tarja preta mas é necessária a prescrição médica, e realmente fiquei muito bem com esta medicação, e resolvi me relacionar com pessoas legais, freqüentei um centro espírita onde eram seguidores de Allan Kardek, e comecei a investir numa vida nova, e a fluxetina me ajudou muito na melhora da disposição para viver.
Namorei uma pessoa, e eu tinha certeza que era para toda a vida, mas foi só mais um dos equívocos, no término do relacionamento eu voltei a tomar o bromazepam e veio a última tentativa de suicídio e a partida de mais uma das cidades de onde morei e saí praticamente sem nenhuma condição de retornar pelo enorme constrangimento que foi, mais uma vez, eu que era considerada uma pessoa tão equilibrada ter um comportamento tão inaceitável.
No final de três anos morando nesta capital nordestina, e com mais um término de um relacionamento amoroso frustrado, e como nesta época eu já freqüentava a doutrina espiritualista do Vale do Amanhecer, e o local onde se encontra o templo de origem é em Brasília no DF, foi para lá que eu fui "enviada", fui colocada num ônibus com uns poucos trocados no bolso, isso por caridade de pessoas conhecidas e familiares do meu relacionamento recém acabado, vocês tem noção da vergonha que eu estava sentindo?
Fui para a comunidade do Vale do Amanhecer que fica no interior de Planaltina-DF que é uma cidade satélite de Brasília, lá é desenvolvido por algumas pessoas um trabalho de acolhida para pessoas carentes, então eu fui muito bem recebida por pessoas extremamente acostumadas com todo o tipo de sofrimento humano de ordem emocional, estas pessoas me permitiram viver como eu realmente era, sem cobranças, sem críticas, e eu fui me fortalecendo.
Lá eu conheci meu marido, nós dois trabalhávamos, estava tudo indo bem.
Quando eu engravidei da minha filha, resolvemos aceitar o convite da minha mãe para voltar para o sul novamente, e como a nossa situação financeira no Vale era muito limitada, resolvemos aceitar, e eu finalmente ia conviver com meu filho novamente, era a felicidade completa.
Mas ao chegar, vieram todas as dificuldades de convivência com minha família, meu marido não me reconhecia mais, eu saí da redoma de proteção que era a comunidade do Vale onde todos eram semelhantes, para viver novamente no "mundo real"!
Aí meu mundo caiu definitivamente.
Foi o fim de toda a minha determinação em enfrentar o mundo, e viver.
No pós parto fui mais baixo ainda do que todas as outras vezes, o obstetra me receitou Triptanol eu tomei um comprimido e dormi dois dias direto, apavorada por me lambrar do bromazepan eu joguei fora o remédio e tentei enfrentar sozinha, mas não consegui, tentei a Fluoxetina que já tinha me ajudado mas só me deu mais sono, veio a Sertralina mais sono ainda, então parei tudo e resolvi me entregar de vez.
Até o diagnóstico da minha filha caçula.
Comecei a ver luz no fim do túnel novamente.
Bom, eu contei tudo isto pois senti muita vontade de ilustrar uma das passagens do livro no qual a autora fala das marcas que todas estas decepções nos causam:
"(...)O cérebro se desenvolve em resposta ao seu ambiente, o que significa que experiências vitais dolorosas deixam suas marcas. Existe um grande volume de provas indicando que o trauma psicológico altera a formação física do cérebro. Assim, um único episódio de depressão importante, em resposta a um acontecimento devastador, deixa cicatrizes não só na alma, mas também na massa cinzenta. Além disso alguns psiquiatras especulam que a capacidade de lidar com a tensão pode diminuir com a idade, assim como se cansam o joelhos do corredor de longa distância.(...)".
Vou continuar no projeto de recuperação do meu jardim, o primeiro passo são algumas mudanças nos hábitos alimentares, mas como eu tenho uma sombra não muito leve do Autismo, esta mudança está em prioridade, pórem como alterar minha rotina? Sinceramente eu tenho até rezado para conseguir.
E se tem uma coisa que eu não tenho hábito é rezar para pedir para Deus, eu prefiro estar na companhia Dele e dos Bons Espíritos, aliás Eles tem sido uma das poucas companhias que eu tenho tido,e por falar nos bons espíritos eu gostaria de contar para vocês que me adaptei muito bem na prática da doutrina do Vale do Amanhecer por ela ser ritualística, e esta é a única característica que a difere das doutrinas seguidoras de Kardek, não pensem em rituais de oferenda como os das religiões afro as quais eu tenho muito respeito, pois no Vale trabalhamos mediunicamente dentro da Lei Crística, somente com manipulação das energias, como tantas outras práticas: a imposição de mãos dos católicos, o johrei da igreja messiânica, o passe para os espíritas, etc.

Abraço e fiquem com Deus!
tidymae@hotmail.com

sábado, 20 de março de 2010

Só por hoje...

Eu sei que muitas pessoas "normais" devem ficar pensando porque eu sofro tanto, já que me comunico e me expresso bem, porque eu uso as expressões "padecer", "desespero", "sofrimento", "culpa", e um sem fim de lamentações.
Pois bem, eu mesma ao acordar hoje me perguntei o porque de tanta dificuldade para me aceitar, mas pensando bem são quase quatro décadas numa total ignorância, então resolvi me dar um crédito, mas estar dependente financeiramente, e não ter um centavo nem para comprar um lápis sequer, a não ser que meu marido me dê, é uma situação no mínimo constrangedora e não me ajuda muito, por mais crédito que eu me dê, fica difícil vislumbrar alguma mudança.
No livro que eu estou lendo(Síndromes Silenciosas), o autor comenta o lema: "Viver só por hoje!" ou "Um dia de cada vez!" que os Alcoólicos Anônimos seguem, e o qual eu mesma me referi anteriormente que era a maneira de viver que eu tinha encontrado, não por ser dependente química, mas para viver nesta limitação que o autismo e a depressão me proporcionam.
O autor diz:
"Embora esse lema tenha salvo muitos dependentes, o futuro se desfaz quando SÓ se vive um dia de cada vez."
É isso aí!
Sem contar que eu ainda não me conformo em não ter uma disposição física que me permita ter uma vida ativa e produtiva, nem os trabalhos manuais que sempre ajudaram eu não consigo mais fazer.
Hoje eu já sei que se mudar a alimentação vou melhorar a minha condição, pois existem estudos que mostram a influência da alimentação na qualidade de vida dos autistas, mas preciso de muita determinação, força de vontade e coragem para mais esta mudança...
Minha filha nasceu exatamente quando eu não via mais nenhuma possibilidade de viver desta maneira, hoje ela só tem 4 anos, mas é minha guia e mentora nesta vida "diferente", pois no mundo dela não existe culpa, vergonha, críticas...ela simplesmente é o que veio para ser:
Um anjo nas nossas vidas, totalmente alheia a estas porcarias que nos atrapalham tanto!

Abraço! Bom fim de semana a todos!!
tidymae@hotmail.com

P.S.: Este vídeo foi publicado esta semana pela Amanda no blog "Caminhos do Autismo":
http://caminhosdoautismo.blogspot.com/ , visitem é fantástico para ficar atualizado com as mais novas descobertas!!!
E eu senti a nessecidade de publicá-lo também, pois o menino é muito assertivo e feliz no seu relato, realmente vale a pena assistir!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Referências!?

Bom, hoje é mais um dia do resto da minha vida, e como ainda me encontro na fase de exorcizar meus demônios, vou desabafar mais um pouco se me permitem, o comentário da publicação anterior, de uma das minhas novas companheiras de trajetória terrena a Karla, me deixaram de frente com mais uma constatação: Eu não tenho referências!Ou as que eu tenho são assim:
Pois bem, sobre os casos de família que eu soube terem problemas ou transtornos mentais, os depressivos eram considerados "pessimistas crônicos e preguiçosos", os com algum traço de DDA ou TDAH "meio louquinhos", os com traços autísticos "bobos e imaturos"!Pessoas fadadas a serem toleradas e o convívio era suportado pelos familiares como um fardo.
Estas foram as minhas referências. E eu faço parte da nova geração de "fardos a serem carregados"!
Sim, eu só descobri que sou autista pela gigantesca semelhança com minha filha que é autista clássica.
Ignorância pura, eu sei, mas nada justifica rótulos tão depreciativos, não é mesmo?
As histórias dos meus familiares com transtornos mentais são de muita rejeição e tristeza, e com fins até trágicos, como de uma tia avó, que inclusive eu sou muito comparada a ela, que viveu seus últimos dias na rua e morreu como indigente por causa do alcoolismo, e a família, só soube anos depois por uma estranha, que a reconheceu antes da hora do enterro e não deixou ela ser enterrada como indigente, e somente muitos anos depois é que esta mesma pessoa encontrou um familiar por acaso e contou onde ela estava sepultada.
Desculpa, esta história é muito triste,mas como sou espiritualista, eu entendo que tenho a função de mudar algumas coisas na minha própria trajetória para quebrar este ciclo de vidas sem sentido!!
E o que eu posso fazer no momento é escrever. Tentar de alguma forma entender! E como tem sido esclarecedora esta atividade, nunca me senti tão aceita e respeitada!
Acho que com isto passo a acreditar que vou conseguir me respeitar e me ajudar muito mais, e viver sem revolta e desespero!
Continuo firme na minha leitura de "Síndromes Silenciosas", livro que está operando verdadeiros milagres na minha vida!
Quero poder em breve estar dividindo mais esta experiência com vocês.
Abraço e fiquem com Deus!
tidymae@hotmail.com

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mais mudanças...

Antes de mais nada preciso dizer que a informação e o esclarecimento são fundamentais para qualquer mudança.
Na minha última publicação, recebi comentários que me incentivaram muito, nestes comentários vieram a indicação de dois livros:

- Síndromes Silenciosas de John J. Rathey, M.D. e Catherine Johnson Ph.D.
- Olhe Nos Meu Olhos de John Elder Robison.

Pois bem, na situação que eu me encontrava, um misto de revolta com cansaço, não me davam muito ânimo.
Eu, de certa forma já estava conformada em passar o resto dos meus dias como uma personagem do filme "A casa dos espíritos", para quem não viu o filme a personagem é uma mulher, que na sua infância foi tida como paranormal e vidente, e casou-se com um homem frio e distante, e no desenrolar da trama eles passam a viver sem se falar e ela vive distante de tudo e de todos dentro da sua enorme sensibilidade, ela parece ser forte mas percebe-se sua infelicidade.
O filme é uma belíssima saga de uma família em tempos de guerra, mas o que nunca saiu da minha cabeça foi esta personagem que não se enquadrava de nenhuma maneira no seu contexto.

Mas mesmo eu sabendo da minha condição e até me conformar de certa forma, eu não sei como fazer para ter o mínimo de vínculo com a vida.
Então fui pesquisar sobre as indicações de livros que recebi, como a cidadezinha que eu moro não dispõe de livrarias, eu encontrei no "Google Livros" os primeiros capítulos de "Síndromes Silenciosas"(de John J. Rathey, M.D. e Catherine Johnson Ph.D.), mas pedi para minha mãe que mora numa cidade um pouquinho maior, tentar achar os livros para mim.

Li também a sinopse de "Olhe nos meus olhos", e vi que se trata de um homem de seus 40 anos que se descobre Asperger, e o assunto me interessa profundamente pois meu marido tem traços fortíssimos da síndrome de Asperger, antes de sabermos disto ele dizia ter uma dificuldade enorme para verbalizar e demonstrar o que sentia e eu confirmava que ele era distante e frio, e que provavelmente nunca cultivaríamos nenhum vínculo afetivo.

Vocês podem imaginar o que é um relacionamento de uma autista com um Asperger, com uma filha de 4 anos diagnosticada autista clássica?
Eu tenho um filho com 14 anos de um outro relacionamento, que mora com minha mãe, e meu marido tem uma filha de 9 anos também de um outro relacionamento que mora com a mãe dele, convivemos com estas "ausências", com este enorme vazio em nossas vidas que é a falta de nossos filhos mais velhos. Meu filho tem traços Asperger e minha enteada suspeita de DDA.

É uma situação que requer uma imensa dose de paciência e um amor incondicional, mas quase sempre estamos nos perguntando se não estamos nos prejudicando em insistirmos em viver tentando desconsiderar o que para nós é normal, mas inevitavelmente não sabemos lidar com isto.

Agora com a leitura inicial de "Síndromes Silenciosas", estou me enchendo de esperanças, pois vejo que nestas informações que estou tendo no livro é o início da minha saída do tal "limbo". A sensação de que vou passar o resto dos meus dias como a personagem do filme está acabando de vez.

Certa vez uma pessoa me disse que eu parecia com estas mulheres melancólicas dos séculos passados, que cultivavam a tristeza e por fim suicidavam-se.

No entanto, por mais contraditório que se diga para as "síndromes do pensamento concreto" eu e meu marido somos espiritualistas e isto nos dá uma vontade incrível de mudarmos estas heranças transcendentais que nos acompanham, estes resquícios de nossas trajetórias passadas.

Na próxima publicação farei o relato das informações que recebi na minha nova leitura, que está sendo muito esclarecedora, Síndromes Silenciosas, que saem do silêncio e começam a se comunicar a partir da informação!

Obrigada Amanda e Karla pelas indicações!
Abraço a todos e fiquem com Deus!
tidymae@hotmail.com

segunda-feira, 15 de março de 2010

Enfrentando a realidade

Eu me sinto como se tivesse vivido durante 37 anos no "LIMBO".
Lutando contra o invisível, com um inimigo oculto, sempre tropeçando nas próprias pernas, sendo traída pela própria voz...pedindo a Deus para que me tirasse a voz, pois quando mais eu falo mais eu me atinjo, é como areia movediça, quanto mais eu tento sair mais eu afundo.
Agora que consegui entender a minha condição, estou passando por uma revolução na minha vida, uma mudança muito significativa, e como toda mudança exige coragem e força, mesmo as mudanças involuntárias e a minha não está sendo diferente.
Depois que eu descobri qual era o "tal" inimigo oculto, a sensação de estar no limbo está se dissipando, porém agora estou num terreno desconhecido, e agora? continuam as crises, a dificuldade, a cobrança de quando eu vou amadurecer, quando vou deixar de ser tão imatura e exageradamente sensível.
E eu aqui, no meu mundo paralelo, sem coragem, sem ânimo, para enfrentar mais um contato com o mundo considerado real.
Achei interessante o que encontrei como significado da palavra "limbo", enquanto pesquisava para escrever este texto:
LIMBO: Esquecimento. Lugar para onde se atiram as coisas inúteis. Orla, borda, rebordo... Contorno luminoso de um astro.
Achei bonita a última parte...contorno luminoso de um astro, antes de saber ser autista eu vivia naquele limbo triste das religiões tradicionais, no esquecimento, mas agora que descobri que meu planeta é outro, eu posso dizer que estou no contorno luminoso de um astro, ainda distante do mundo considerado real, mas agora na luz...
Como é importante conhecer a si mesmo!
Sei que a próxima etapa da minha trajetória, do meu aprendizado será não depender da aceitação, acabar com este pavor da rejeição!!
Ainda escrevo anonimamente para proteger meus filhos desta maldita rejeição!
Será uma longa etapa eu sei, porém fundamental.

Muito obrigada a todos pelas palavras de apoio e incentivo!
Abraço carinhoso!
tidymae@hotmail.com

sexta-feira, 12 de março de 2010

Em crise...

Tive mais uma decepção a respeito de achar que estava sendo compreendida, achar que estava me expressando e interagindo da forma "convencional", quando fiquei sabendo que para uma pessoa muito querida para mim eu não passo de uma desequilibrada.
Fui comunicada disto de uma forma extremamente constangedora e fria.
Estou em crise, lutando para não entrar em depressão...., pois aí ficará tudo bem pior.
Me desculpem mas nessas horas, em que estou assim, neste desespero todo eu não consigo escrever.
Espero poder publicar em breve mais uma página sobre minha caminhada neste planeta que eu até hoje não aprendi nem a língua que aqui se fala...

quarta-feira, 10 de março de 2010

O autismo de alto funcionamento quase sempre é confundido...

Demorei muito para colocar em prática a idéia do blog, desde pequena eu tento me comunicar por cartas com as pessoas que eu queria me relacionar, mas como sempre foi um desastre estas tentativas de escrever, então eu tinha um medo enorme de escrever estes relatos para o blog.
Hoje eu preciso muito agradecer a todas as pessoas que tem me escrito para falar do blog, pois estou me sentindo muito melhor, parece que pela primeira vez na minha vida eu estou me comunicando "através de mim mesma" e não através de uma "personagem".
Quando era criança me comportava como adulto mas no fundo queria ser respeitada como criança, agora que sou adulta me comporto e sinto tudo como se fosse uma criança, mas preciso ser respeitada como adulta, então quando me vejo estou representando o papel de adulta, mas sem ter a segurança de um "adulto amadurecido".
Esta inadequação toda é algo terrível! Pois nunca nos realizamos quando nos relacionamos, é sempre tudo muito "falso"!!!
Esta "representação" fere, machuca, cansa, acaba com toda minha vontade de viver e me relacionar com o mundo lá fora!
Porque eu não posso ser eu mesma sempre?
Porque eu não posso viver em paz?
É claro que eu sei que nunca vou ser respeitada se me comportar como uma criança que pergunta tudo o tempo inteiro, que fala tudo o que pensa, e que quer atenção incondicionalmente.

Mas o pior e mais inadequado comportamento de uma autista adulto é "falar tudo que pensa" é o que realmente acaba com todas as chances de relacionamento saudável!!!

Já falei nas publicações mais antigas do blog sobre: Empatia.
A empatia é uma característica que não temos, mas também sofremos por ver o que acontece a nossa volta, porém muitas vezes não nos identificarmos e aí é que surgem os comentários e atitudes inadequados.
Isto,as vezes, é até bem tolerado em crianças que são normalmente irreverentes, nos adolescentes também pois são considerados "rebeldes", mas em adultos é absolutamente reprovável.

Eu só me dei conta do fato de ser infantilizada quando entrei para a fase adulta, mas ter consciência deste fato não me ajudava em nada.
Acho que ter esta consciência acabou mascarando, escondendo o autismo.
Segundo o comentário de uma leitora do blog sobre meu depoimento inicial, esta infantilização é realmente confundida pelos profissionais:

"Esta é a história de todas nós, autistas,ela conseguiu exteriorizar muito bem o que se passa por cada fase...da infância até a idade adulta.
Da precocidade na infância , quando nos comportamos como pequenos adultos, a infantilização na idade adulta...isso que os profissionais confundem com queimas de fases( adolescência tardia, por ex.), mas não é assim...não é isso. Nosso processo de amadurecimento é diferente.
"

Estou aprendendo muito com esta experiência do blog, realmente está valendo a pena!!

E sobre o pedido da seguidora Amanda, para que eu escreva sobre a minha infância, pode ter certeza que farei muitos relatos sobre a minha "tenebrosa" infância!!

Abraço e que Deus abençoe todos vcs e muito obrigada mais uma vez por todos os comentários, para mim eles são como uma jóia preciosa!!

tidymae@hotmail.com

terça-feira, 9 de março de 2010

Relacionar-se amorosamente...sendo autista ou com um autista: A história do meu casamento!

Quando eu e meu marido nos conhecemos já estávamos cansados de tantos relacionamentos frustrados, e resolvemos ficar juntos e enfrentar todas as diferenças para ver se desta vez entenderíamos o que acontecia para tantas experiências fracassadas no nosso passado.
Ele com uma filha sendo criada pela mãe dele e eu com um filho sendo criado pela minha mãe.
Nós dois nos identificávamos muito, mas hoje sabemos que estas "semelhanças" todas são as características de um Asperger e uma autista de alto funcionamento e verbal.
Meu marido tem um auto controle que eu gostaria de adquirir, e ele diz que eu tenho uma facilidade maior para demonstrar o que sinto, estas são nossas "diferenças" e o que nos une são elas.
O que me destrói e deprime é que eu me expus muito por toda minha vida, errei muitas vezes, morei em várias cidades, fui embora sem a coragem de retornar nem para visitar tamanha era a minha falta de capacidade de me relacionar.
Pelo que eu percebo os Aspergers são mais controlados, apesar também de saber que cada ser humano é realmente um universo, exemplo disso é uma informação que a terapeuta da escola especial que a minha filha freqüenta me passou, ela é a única criança autista da escola que não suporta reunir-se com grandes grupos em eventos coletivos, característica esta que suponho que ela tenha herdado de mim, pois eu não consigo estar em desfiles de rua, não gosto de shows ao ar livre com multidões, das festas de fim de ano com a família toda reunida, se eu participo quase sempre me arrependo pois sempre dou vexame.
Eu sinto que "quase sempre", quando tento me aproximar do meu marido, pois eu sou muito falante e como todo autista, eu muitas vezes foco demais num assunto e sou insistente e repetitiva e eu sei que isso é INSUPORTÁVEL pra ele, mas como temos aquele "pacto" inicial de irmos até o fim, vamos enfrentando, agora depois do diagnóstico da minha filha e da nossa descoberta, está mais digno o relacionamento, antes nós pensamos inúmeras vezes em nos separar.
E é por isso tudo que eu posso dizer que para dar certo um relacionamento afetivo com um autista é preciso muita sinceridade e coragem, se não for possível a princípio contar sobre sua característica, aos poucos vc deveria ir expondo sua maneira de ser, para que a pessoa que você quer se relacionar não se afaste por achar que só te incomoda ou achar que sempre está invadindo seu espaço, pois eu até hoje acho que a maioria da vezes estou incomodando meu marido com meus
"ismos"(comportamentos repetitivos do autista ), o "ismo" que eu tenho que mais incomoda meu marido Asperger é falar muito a mesma coisa e querer que ele me responda sempre!rsrs
Bom, a minha intenção é de dividir tudo isso com vocês é tentar ajudar alguém que possa estar interessado em se relacionar com um membro da nação autista, ou algum autista que esteja querendo se aproximar de alguém!
Boa sorte a todos!
Abraço!
tidymae@hotmail.com

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ter um discurso sempre muito correto me faz ser cobrada em atitudes que não consigo ter!

Atualmente eu só tenho contato com o mundo externo pela internet, e alguns compromissos formais como reunião de escola e compras no supermercado e só.
Estou vivendo assim desde que voltei para SC para o nascimento da minha filha em 2005, tive início de depressão pós parto e cheguei a conclusão que não aguentava mais fazer tanto esforço para me comunicar e nunca ter sucesso, decidi que só voltaria a interagir quando descobrisse o que acontecia comigo.
Resultado eu e minha filha vivemos reclusas por três anos,pois a minha mãe dizia que éramos idênticas, até minha filha ir para a escola e vir o diagnóstico dela: Autista Clássica.
Aí veio a pergunta: E eu???
Descobri nas primeiras leituras que os autistas podem ser de alto funcionamento e verbais.
Pronto esta era a resposta!
Foi um alívio!
Mas deste dia até hoje já passou muito tempo.
Parece que eu entrei num "vácuo", eu sabia o que acontecia mas não sabia o que fazer, então estagnei mais ainda.
Há uns três meses eu resolvi parar com o tratamento para depressão e com os remédios para fibromialgia ou dor crônica como também é chamada, foi terrível, estava passando férias na casa da minha irmã, que é vizinha da minha mãe, e foram dias bem terríveis.
Mas, eu precisava tentar viver de outra forma, então criei o blog para ver se extravasava tudo o que sentia, era a última tentativa.
E hoje após duas semanas que criei o blog, vejo que está valendo a pena, vi que não estou só nesta situação.
Um dia desses assisti mais um documentário sobre autismo, e no depoimento dos pais de uma menina autista eles disseram que tinha chegado a seguinte conclusão:
"Não cabe a nós julgarmos a qualidade de vida de vida da nossa filha!"

Acho que este foi o meu maior erro: Aceitar que deveria ter a qualidade de vida que todo mundo acha que eu posso ter por ser tão "inteligente"!
Ter um discurso sempre muito correto me faz ser cobrada em atitudes que não consigo ter!
Agora decidi que vou viver com a filosofia do "Só por hoje"!
Estou realmente sem nenhum entusiasmo para mais nada além de cuidar da minha filha.
O desânimo é gigantesco!
Mas, só por hoje vou tentar não desistir!!

Obs.: Se alguém quiser resposta do comentário por favor deixe email para contato. Eu não estou conseguindo responder por falta de endereço.

domingo, 7 de março de 2010

Não ter opção, e ter que aceitar a condição!

Tenho a sensação de que nunca tenho opção e esta é uma experiência muito dolorosa.
As coisas que eu gostaria de ter ou fazer estão sempre na minha cabeça, nunca se concretizam e o que é pior a realidade é sempre muito distante do que acontece nos meus pensamentos.
Quase sempre sou violentamente invadida pela realidade.
Optar entre casar ou trabalhar, ter que optar por não conseguir fazer duas coisas ao mesmo tempo, sofrer discriminação e cobrança por não me manter financeiramente nem ajudar nas despesas da casa.
Tenho que me aceitar, mas antes disso preciso achar motivação, onde está a maldita motivação!
Cadê o entusiasmo?
Onde foi parar o objetivo?
Como ter "foco" sem ter controle do pensamento?
De que me adianta toda essa rotina?
De que me adianta controlar tudo que está fora se a cabeça está um "inferno"!!
Aí vem a vontade de sumir...

tidymae@hotmail.com

sábado, 6 de março de 2010

A leitura que me libertou!!

Quando minha filha foi diagnosticada autista eu era TOTALMENTE leiga no assunto, nós duas éramos consideradas as "chiliquentas" e "birrentas" da família, mas eu nem sonhava com a possibilidade de sermos autistas,então corri pesquisar na internet, e nos sites de busca eu digitava "autismo em menina", pois na primeira leitura que eu fiz dizia que o autismo era uma doença tipicamente masculina.
Nesta busca encontrei um blog muito interessante, que também serviu de inspiração para a criação do meu blog, este artigo que vou publicar abaixo foi postado no Blog "Descobrindo meu lado esquisito" em 2008:

AUTISMO EM MENINA

Descobrir autismo em meninas pode ser mais difícil, diz estudo:
Segundo pesquisa britânica, meninas mostram sintomas diferentes de casos clássicos.

- Meninas com uma forma mais amena de autismo têm menos probabilidade de serem identificadas e diagnosticadas do que meninos, segundo uma nova pesquisa britânica.

Segundo os pesquisadores, que apresentaram a pesquisa na reunião do Royal College of Psychiatrists, na Grã-Bretanha, as meninas mostram sintomas diferentes e menos sinais mais tradicionalmente associados com o autismo, como comportamento repetitivo.

Os cientistas afirmaram que, devido a este problema, alguns casos de autismo em meninas podem acabar não diagnosticados.

Quase 600 crianças participaram do estudo, 493 meninos e 100 meninas, todos com transtorno do espectro autista. A maioria, 457, tinha passado por consultas na Clínica de Distúrbios Sociais e de Comunicação no Hospital Great Ormond Street, de Londres.

Os outros casos estudados foram encaminhados pela Clínica de Psiquiatria Infantil do Royal Hospital de Sunderland e da Clínica de Psiquiatria Infantil do Hospital Universitário de Tampere, na Finlândia.

Todas as crianças analisadas eram descritas como indivíduos cujos sintomas não eram totalmente correlatos com casos clássicos de autismo. Apesar de estas crianças ainda apresentarem dificuldades de socialização, comunicação e comportamento, seus sintomas eram menos rigorosos. E os pesquisadores concluíram que as diferenças na severidade do comportamento podem levar a uma tendência contra a identificação do problema em meninas.

Com base na experiência clínica, os pesquisadores observaram que as meninas tinham mais probabilidade de ter interesses obsessivos centrados em pessoas e relacionamentos.

Estes interesses podem ser mais bem aceitos pelos pais e, por isso, não são relatados aos médicos. Estes tipos de obsessão também têm menos chances de ser descobertos com o uso de questionários padrão para o diagnóstico do problema. Os estudiosos afirmam que são necessárias mais pesquisas para analisar como o autismo se manifesta de forma diferente entre meninos e meninas.

Sociedade Judith Gould, da Sociedade Britânica de Autismo, afirma que é possível que muitas meninas escondam melhor suas dificuldades para ficar de acordo com a sociedade. "Características como timidez e sensibilidade muito alta, comuns em pessoas afetadas pelo autismo, algumas vezes são consideradas como traços tipicamente femininos", afirmou. "Mas, se um menino apresentar estas características, os pais poderão ficar preocupados."

Para Gould, a forma como o autismo se apresenta em mulheres pode ser muito complexa. Muitas mulheres e meninas não são diagnosticadas. De acordo com o professor Simon Baron-Cohen, especialista em autismo da Universidade de Cambridge, são necessários mais estudos. "Esta é uma questão clínica muito importante e existem poucos estudos tratando disso", afirmou. "Não deveríamos supor que autismo ou Síndrome de Asperger serão parecidos para ambos os sexos." BBC Brasil.


Como vocês devem ter percebido, são informações preciosíssimas para nós mulheres portadoras da síndrome.

Fiquem com Deus e até a próxima!
tidymae@hotmail.com

Estou cansada de "representar"!

Eu sinceramente ando lutando muito contra os personagens que eu represento para conseguir me comunicar, estou exausta fisicamente e emocionalmente.

Que fique bem claro que estes personagens não são criados de forma maquiavélica ou com má intenção para enganar as pessoas, estas representações normalmente acontecem em ambientes públicos onde inconscientemente assumimos uma postura que normalmente não conseguiríamos ter, para nos apresentar de modo adequado, e consequentemente nos sentirmos aceitos.

Porém, depois sempre vem a maldita cobrança: PORQUE MEU SENTIMENTO NÃO CORRESPONDE COM AS MINHAS ATITUDES??

Vou dar um exemplo deste "inferno" que vivemos para nos relacionar:

Quando eu e meu marido saímos para levar a nossa filha ao parque, eu automaticamente deixo de lado o pavor de ter que encontrar um conhecido e ainda ter que conversar com alguém, e me "tranformo" numa "mãe que sempre leva seus filhos ao parque" .
Só que quando eu retorno para casa:
- já não sei mais se realmente gostei do passeio,
- se aquilo era tudo falso,
- se estou triste,
- se estou com raiva por ter ido,
- porque eu tive que falar todas aquelas coisas para aquelas pessoas?
- porque eu falei tudo o que NÃO era pra falar?
- porque contei tanta coisa para quem eu nem conhecia?
- porque eu tive que sair de casa e porque não sair?
- eu tive opção?
- e se eu tivesse ficado em casa, como minha filha ficaria sem a oportunidade de se relacionar?...e aí a cabeça vai indo embora!
As vezes entro em crise nervosa, normalmente já chego em casa chorando, jurando que nunca mais vou sair de casa.

Enfim é uma confusão mental tão grande que dá vontade de morrer!!E ainda teremos que continuar interagindo, dando atenção para a filha, para o marido, talvez ainda ter que atender um telefonema e tudo isto vai nos violentando de tal forma que realmente dá vontade de morrer pra acabar com tudo!

Já fiz tratamento com anti depressivos, pois a depressão sempre me acompanha, mas até eu descobrir o meu tipo de transtorno, estes anti depressivos só tratavam as consequências e adiavam a descoberta da causa de tudo: o autismo.

Hoje, com esta consciência toda a luta é bem mais intensa, é como procurar alguém que eu mesma tentei matar por longos e tenebrosos anos, pois até bem pouco tempo atrás eu me desconsiderava totalmente, e agora?? QUEM SOU EU?

Não me questiono de maneira filosófica e abstrata, mas de maneira puramente prática, do que realmente gosto de comer, onde gostaria de morar, que tipo de assuntos eu gosto de falar, porque não consigo fazer mais trabalhos manuais, estou me tornando cada vez mais contemplativa...

Ainda sinto que estou aos "trancos e barrancos", mesmo com todo o esclarecimento eu sofro muito.
Eu entendo que somos o que somos, e quem podemos ser...porém preciso sair desta angústia, desta falta de entusiasmo.

A vida sem o diagnóstico foi para mim um acúmulo de mágoas e doenças, depressão, dor crônica(fibromialgia), stress, cansaço, e um sem fim de mazelas.

Mas não posso deixar de registrar que o esforço para criar este blog me ajudou muito, é para mim uma "luz no fim do túnel", quanto mais escrevo, mais vou saindo do personagem e me descobrindo como uma pessoa com características bem marcantes.

Características que muitas vezes neguei, por não conseguir vencer a confusão mental. Aí vinham as cobranças pela minha IMATURIDADE EMOCIONAL.

Eu tenho sentimentos.
Eu sei o que quero.
Porém na hora de me comunicar, de agir, a confusão mental e a dificuldade é tanta que ocorre uma "auto-sabotagem" se é que esta palavra existe! A verdade é que nos traímos com nosso próprio discurso, com nossas próprias atitudes, estamos ali vendo tudo acontecer, sabemos que nós mesmos estamos nos traindo e mesmo assim não conseguimos evitar.

tidymae@hotmail.com

sexta-feira, 5 de março de 2010

"...O delicado equilíbrio entre as minhas, as suas e as nossas necessidades."(Bel Cesar)

Trechos extraídos do texto:

"Empatia: uma atitude naturalmente sábia e compassiva"- Bel Cesar


"...Segundo Robert Sardello, precisamos passar por três fases distintas para desenvolver a empatia. O primeiro aspecto dessa atividade consiste em voltarmos conscientemente a nossa atenção para uma outra pessoa em uma atitude de abertura. Estendemos parte de nosso ser para além de seus limites usuais, ficamos interessados na existência e no destino da outra pessoa – mas não por curiosidade, aventura, criticismo, interesse pessoal ou poder. Para tanto, temos antes que deixar escoar os nossos pensamentos habituais sobre ela e nos permitir senti-la de um modo mais direto e intuitivo."

"...É como escreve Márcia Mattos: O fato de o outro existir junto comigo – de estar ao meu lado e de se dispor a fazer coisas comigo – me inspira a despertar qualidades que estavam inconscientes em mim. Toda personalidade se enriquece com isso. [...] Há uma poderosa química que o outro exerce sobre nós, produzindo efeitos e aflorando virtudes das quais nós sozinhos seríamos incapazes de nos apropriar."

"...O delicado equilíbrio entre as minhas, as suas e as nossas necessidades."


"...A troca equilibrada entre ceder e requisitar, dar e receber afeto e atenção nos aproxima de modo saudável das pessoas que nos cercam sem corrermos o risco de criar vínculos destrutivos. O paradoxo do relacionamento é que ele nos obriga a sermos nós mesmos, expressando sem hesitação e assumindo uma posição. Ao mesmo tempo, exige que abandonemos todas as posições fixas, bem como nosso apego a elas. O desapego em um relacionamento não significa que não tenhamos necessidades ou que não prestemos atenção a elas. Se ignoramos ou negamos nossas necessidades, cortamos uma parte importante de nós mesmos e teremos menos a oferecer ao parceiro. O desapego em seu melhor sentido significa não se identificar com as carências nem com as preferências e aversões. Reconhecemos sua existência, mas permanecemos em contato com nosso eu maior, onde as necessidades não nos dominam. A partir desta perspectiva, podemos escolher afirmar nosso desejo ou abandoná-lo, de acordo com as necessidades do momento."

"...A empatia começa com a capacidade de estarmos bem conosco mesmos, de reconhecermos o que não gostamos em nós e admirarmos nossas qualidades. Quanto melhor tivermos sido compreendidos em nossas necessidades e sentimentos quando éramos crianças, melhor saberemos reconhecê-las quando adultos."

"...Entrar em contato com os próprios sentimentos é a base para desenvolver a empatia. Como alguém que desconhece suas próprias necessidades poderá entender as necessidades alheias?"

Bel Cesar é psicóloga e pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano
.

E nós autistas como faríamos para desenvolver o dom da empatia??

Estou em busca da resposta, e feliz por já ter descoberto a existência deste dom e a necessidade ou vontade de possuí-lo!

Abraço fraterno!
P.S.:Deixarei meu e-mail para contato: tidymae@hotmail.com

Aceitar-se 2

Olá!
Bem, vou continuar no assunto da aceitação, é bem difícil para mim ter que sempre justificar o que falo e o que faço, sempre me sentindo inadequada e inoportuna, é claro que isto também tem relação com a falta de auto estima, a tão famosa AUTO ESTIMA...
O que me restou foram alguns pedaços de coragem e medo!
Auto estima é um dos novos projetos, mas não vou seguir as "auto-ajudas" da vida, pois meu mundo é outro!
Acho muito apropriado o termo usado mos E.U.A. para designar o Autismo:
Síndrome do "Ops que planeta é este?", já me peguei muitas vezes me perguntando de que planeta eu vim!
Esta semana eu andei divulgando meu blog, em algumas comunidades do Orkut das quais eu participo, e foi muito bom, recebi alguns comentários bem interessantes, como o de um leitor que me perguntou se eu era Asperger ou Autista? Acho que ele me achou muito articulada para ser autista, mas na verdade eu não tenho algumas características para que eu seja Asperger, então sou autista.

E por falar em Asperger, não posso deixar de contar para vocês mais uma das minhas peripécias:
Estou eu divulgando este meu blog numa comunidade Asperger, só que na síndrome de Asperger os portadores são 90% homens, mas tudo bem eu já havia postado a divulgação achei que algum deles poderia se interessar. E bem abaixo da minha divulgação estava uma postagem de um pesquisador da mente Asperger, o texto do pesquisador era um questionamento sobre como os Aspergers viam a questão da "Fé" que é um assunto abstrato , pois os Aspergers tem o chamado "pensamento concreto",que também é característica de qualquer outro portador da síndrome do espectro autista, e abaixo vinham as respostas, todas de rapazes e praticamente iguais.

Na realidade me senti mais uma vez sendo inadequada por ser uma comunidade praticamente só freqüentada por homens, mas o que me surpreendeu foi o que outras pessoas comentaram, como a pergunta daquele homem que eu citei acima: se eu era autista ou Asperger, e uma outra pessoa respondeu que o neuropediatra do filho dela disse que em breve o Código Internacional De Doenças(CID), não fará mais distinção de Asperger e Autistas de alto funcionamento, ou seja todos seremos portadores de "autismo leve".

Eu sempre lembrarei que estas denominações todas são para as PESSOAS e não para o AUTISMO!

Vou contar agora mais uma das minhas tentativas, espero que seja uma das últimas, de provar para os outro e talvez para mim mesma que realmente sou autista:

Reencontrei uma amiga de infância através da internet, fazia uns vinte anos que não nos comunicávamos, e aí vieram as conversas e eu mais uma vez me comportei de forma infantilizada na forma de cobrar dela algumas atitudes que no passado me magoaram muito, resultado ela não entendeu nada pois nem lembrava de muita coisa, e ficou indignada com algumas cobranças, então resolvi contar para ela que eu era portadora do espectro autista e falei deste blog.
Ela com todo o direito que tem, ficou com muitas dúvidas.

Vou dividir com vocês a minha "tentativa", o texto começa com a resposta da pergunta que ela me fez sobre o título do blog ser coincidência ou eu ser realmente autista.
Eis a minha resposta:

"...Não foi apenas uma coincidência, não! Eu sou autista, porém na época em que eu era criança as pessoas não sabiam que existia o "autismo de alto funcionamento" muito menos que poderíamos ser "verbais", portanto esta culpa minha mãe não carrega, mas como minha mãe é uma pessoa com um temperamento extremamente "ativo" e muitas vezes "invasivo", e para piorar ela também tem pouca aceitação para transtornos mentais, as vezes acha que é "falta de vontade" ou "mimo" então ela não me respeitou nesta questão e sempre tentou me "educar", até descobrirmos, atualmente, que eu sou autista, ela me cobrava quando eu iria crescer, quando iria parar com meus "chiliques", e esta cobrança não é só dela, mas ainda é da família inteira.

Dizem que meu discurso é muito correto e adulto, mas não condiz com as minhas ações, isto realmente acontece,e é realmente o meu maior sofrimento!

Esta imaturidade existe na forma de nos comunicarmos e nos relacionarmos, ou seja na tríade de comprometimento da mente autista:
1- Socialização, 2- Comunicação, 3- Imaginação , mas mesmo quando não nos comunicamos temos sentimentos em relação ao que nos acontece, e o constrangimento pela falta de adequação é um fato e a tristeza de muitas vezes perder oportunidades... enfim apesar de parecermos muito capazes pois existe o discurso bem articulado, porém este discurso quase sempre é racional por não conseguirmos sentir o que falamos, nem sempre agimos de acordo com nosso discurso e isso também tem relação com a falta de empatia.

"...O Autismo não é uma condição de "tudo ou nada"; ao contrário, é visto como um continuum que vai do grau leve ao severo. Existe uma grande associação entre autismo e retardo mental, desde o leve até o severo, sendo que considera-se que a gravidade do retardo mental não está necessariamente associada à gravidade do autismo.
A palavra autismo atualmente pode ser associada a diversas síndromes. Os sintomas variam amplamente, o que explica por que atualmente refere-se ao autismo como um espectro de transtornos
Dentro deste espectro encontramos sempre a tríade de comprometimentos que confere uma característica comum a todos eles. Alguns são diagnosticados simplesmente como autismo, traços autísticos, etc, ou Síndrome de Asperger (considerado por muitos como o autismo com inteligência normal). Além destes, existem diversas síndromes identificáveis geneticamente ou que apresentam quadros diagnósticos característicos, que também estão englobadas no Espectro do Autismo."

(Fonte:"Site da AMA")

Eu e meu marido casamos por nos identificarmos muito com estas características todas, mas só fomos saber que somos portadores do espectro autista depois do diagnóstico da nossa filha.

Realmente o Autismo é um assunto bem complexo, e interessante ao mesmo tempo, não é a toa que fizeram dezenas de filmes com o assunto.
Começou a ser diagnosticado como doença faz muito pouco tempo, era considerado "birra" de criança mal educada, ou rejeição dos pais.

As pessoas ainda tem aquela visão da criança sentada se balançando ou girando tampas de lata, mas isso acontece quando a criança tem o chamado autismo clássico, e estas crianças simplesmente se balançam e repetem o mesmo movimento para tentar se acalmar e ter alguma sensação de conforto dentro desta desconexão e confusão mental que é quase sempre insuportável, podem acontecer crises de agressividade, afinal poucos profissionais diagnosticam com facilidade pois é uma doença altamente complexa, e esta demora ,ou mesmo, a falta do diagnóstico agravam muito a situação do autista.

Eu sou autista de alto funcionamento e verbal, meu marido é Asperger (aquele que é considerado com inteligência normal, porem a mente é altamente sistematizada), meu filho tbém é Asperger, mas vc deve ter lido no blog no texto do Dr. Christopher Gillberg que não devemos dar estas denominações para o autismo e sim para o pessoa, ou seja, EU sou verbal e de alto funcionamento, o autismo é o transtorno do qual eu sou portadora, esta doença é complexa porque em cada indivíduo se manifesta de um jeito, o autismo tem sua origem na falta de algumas conexões cerebrais que resultam numa confusão mental gigantesca, e numa necessidade absurda de controlar o meio em que vivemos para tentar minimizar esta confusão que muitas vezes nos transtorna e deprime.
Retirei este trecho da página da comunidade do orkut: "Não à banalização do autismo":

Autismo:
1.estado mental caracterizado por uma concentração patológica do indivíduo sobre si mesmo;
2.ensimesmamento;
3.alheamento do real;
4.predominância da vida interior;
5.subjetivismo delirante.
fonte: http://www.infopedia.pt/default.jsp

A minha vontade é dividir minhas descobertas com vc, e talvez esclarecer mais um pouco as suas dúvidas."

E esta foi mais uma tentativa de me explicar, e tentar me aceitar!

Me despeço agora e fico a disposição para qualquer dúvida ou comentário, no meu email: tidymae@hotmail.com

Abraços e fiquem com Deus!

terça-feira, 2 de março de 2010

Aceitar-se

Hoje me dei conta de que não me aceito, mas também entendi que ainda não houve tempo para que eu pudesse assimilar tantas descobertas.
Eu digo "assimilar",mas quem conhece o "famoso" pensamento concreto sabe que assimilar não é problema para uma mente autista, a real dificuldade é sentir e vivenciar as tão sonhadas mudanças.
Sei que enquanto eu não me aceitar, não conseguirei gostar "do que sou" ou "de quem sou", e a verdade é que eu nunca consegui conviver comigo mesma...
Descobrir que sou diferente realmente me libertou de muitas amarras, porém percebo que estou tendo que reaprender a viver, e a minha filha é que tem me dado esta oportunidade, pois com o tratamento dela eu fico sabendo o que acontece comigo, e por causa dela comecei a estudar o autismo então vieram as descobertas.
Me aceitar, me perdoar, me cuidar, estas são as metas...
Abraço!
P.S.:Deixarei meu e-mail para contato: tidymae@hotmail.com

segunda-feira, 1 de março de 2010

EMPATIA, uma preciosa ferramenta!

Descobrir quem somos é uma experiência libertadora!!!
Há 1 ano, descobri o autismo na vida da minha filha caçula(hoje com 4 anos), já percebíamos que o comportamento dela não era comum, porém minha mãe dizia que não era necessário se preocupar pois ela era "igualzinha" a mim quando pequena, mas quando ela foi para a escola não se adaptou e tivemos que procurar ajuda profissional, e veio o diagnóstico: Autista.
Eu não me abalei pois como eu me identificava muito com ela sabia que aquelas dificuldades todas simplesmente faziam parte das características dela, mas ficou aquela interrogação dentro de mim: e eu??? quem sou???
Todo o meu sofrimento com crises nervosas e depressões foram sendo "justificados", porém eu não conseguia compreender.
Toda a família se "agitou" e uma das minhas irmãs trouxe um documentário sobre autismo para eu assistir, era sobre uma família com 6 filhos autistas, com profissionais relatando a rotina da família, e o que mais me chamou atenção não eram as crises de agressividade, o isolamento e a falta de comunicação em algumas das crianças, foi um dos filhos que freqüentava escola regular e quando foi questionado pela terapeuta sobre quem dos colegas da sua sala era seu amigo, ele respondeu: TODOS!
A terapeuta explicou que este era um dos maiores problemas, pois na fase adulta ia ser motivo de muito sofrimento e este comentário ficou na minha cabeça como um tormento pois além de não ter entendido eu me identifiquei com o menino.
Hoje, quase um ano depois, minha filha já está freqüentando escola regular, mas ainda freqüenta a escola especial onde tem tratamento com uma equipe de profissionais especializados e para que minha filha tivesse acesso ao tratamento, tivemos que nos mudar para minha cidade natal, pois a escola especial daqui é excelente.
Fazia muitos anos que eu tinha ido embora e retornar não está sendo fácil.
O motivo de eu ter ido embora daqui foi a minha total falta de "adequação" social e um sofrimento enorme que vinha junto com tudo isso, na época que eu fui embora estava com depressão profunda com tendência suicida (fiz três tentativas).
Desde que voltei vivo reclusa em minha casa, hoje posso dizer que não tenho nenhum convívio social e o convívio familiar é bem precário.
Descobrimos então eu e meu marido sermos portadores do espectro autista, ele Asperger e eu autista de alto funcionamento ou verbal como pode ser chamado o autista que se comunica.
E chegamos na tal da "Empatia", que me remeteu direto ao documentário da família com os seis filhos autistas, e o menino que me chamou atenção, era esta a semelhança com a qual me identifiquei : a falta de empatia.
Segundo o dicionário empatia é:

"Capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se nas mesmas circunstâncias, ou seja colocando-se em seu lugar no sentido abstrato."

"Psicologia e Filosofia Faculdade de perceber de que modo uma pessoa pensa ou sente. Embora não tenhamos conhecimento direto da mente dos outros, muitas vezes podemos fazer suposições bastante precisas acerca da maneira como as outras pessoas sentem ou no que pensam."

"Empatia é, segundo Hoffman (1981), a resposta afetiva vicária a outras pessoas, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação."

Depois de todas estas definições e as experiências recentes, entendi:
ME FALTA TOTALMENTE ESTA TAL EMPATIA!!

Como viver e conviver sem ela?

Talvez se acreditarmos que conhecendo as próprias limitações conseguimos evitar alguns perigos, como os terríveis constrangimentos que sofremos quando não temos "limite" pela falta de EMPATIA , com muita paciência e resignação vamos reaprendendo a conviver sem esta preciosa ferramenta.

Muita força e coragem!!
Abraço!
P.S.:Deixarei meu e-mail para contato: tidymae@hotmail.com

Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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