"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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sexta-feira, 26 de março de 2010

Eu e minha filha (1)

Os profissionais da escola especial(APAE) que a minha filha freqüenta sempre elogiam a maneira que eu me relaciono com ela e me dizem que ela é uma criança autista com um comportamento bem legal, dentro das suas limitações, é claro.
E eu somente faço com ela o que eu gostaria que tivessem feito comigo, então não via muito mérito nisso.
Esses dias tive uma surpresa:
Eu estava pesquisando no "YouTube" sobre os transtornos invasivos do desenvolvimento, e um vídeo sobre autismo revertido sempre aparecia na lista, até que resolvi abri-lo, e para meu espanto o homem que dizia ter revertido o autismo era o menino que inspirou a história do livro "SON RISE", e que se transformou no filme "Meu filho, Meu mundo", e posteriormente no método para tratamento de crianças autistas o método Son-Rise.
Quando era criança assisti junto com minha mãe o filme, nunca mais esquecemos, comentamos este filme ao longo de nossas vidas sem nunca nos dar conta de que eu podia ser autista, pois eu não tinha aquela estereotipia toda e usava linguagem verbal.
E eu assisti também os vídeos com as instruções básicas do método, que foram publicados no "YouTube" pelo site "Inspirados pelo Autismo", inclusive eles também publicaram o filme legendado divido em partes.
Fiquei emocionada pois o método desenvolvido tem muita semelhança com a maneira que eu me relaciono com minha filha, foi fantástico, pois eu não sabia se estava agindo de maneira correta, as vezes eu me perguntava se juntando-me a ela eu não estaria "incentivando" que ela ficasse mais fechada ainda, e descobri que é exatamente o contrário, quando conseguimos nos juntar a eles é quando eles sentem-se seguros para vir para o "nosso mundo".
Eu não só recomendo como faço um apelo para os pais de crianças com transtornos invasivos do desenvolvimento(autismo, Asperger, etc) que assistam os vídeos com as noções básicas, vou disponibilizar aqui no blog, dois vídeos, o que mostra o menino que inspirou o filme e hoje em dia trabalha na ajuda de pais e crianças autistas, e outro vídeo com a introdução do método e neste vocês encontram os outros vídeos relacionados.
Quem ainda não conhece, vale a pena conhecer, pois para a rotina diária, ajuda demais.
Eu sei que atualmente existem vários métodos para se trabalhar com as crianças e todos tem seu valor, mas este é como se fosse um complemento de todos os outros, pois ajuda juntar-nos a elas de uma maneira especial, e eu posso dizer que se for usada os resultados são muito bons.

Quero também me solidarizar com os pais que não são autistas, eu sei que para mim é fácil distinguir entre uma crise de raiva por dificuldade, e uma crise por birra, pois sendo eu autista e meu marido Ásperger, para nós é de certa forma mais fácil, mas como nossa filha ainda não usa linguagem verbal, temos que nos esforçar muito para ajudá-la.

“ A vida deveria ser mais que seguir comandos; ações e expressões deveriam ser mais que treinamento e um meio para um fim. A vida deveria, em algum momento, ser uma recompensa por si mesma. ” Donna Williams, uma pessoa adulta, com autismo (1996, pg. 128). Em Autism - an Inside out Approach”.


Abraço fraterno e fiquem com Deus!
tidymae@hotmail.com

2 comentários:

  1. Querida Tidy!

    Você ja acessou o canal do youtube do Caminhos do Autismo?
    Gostaria que você assistisse este vídeo:
    http://www.youtube.com/user/CaminhosdoAutismo?feature=mhw4#p/f/44/7jqhQ-CIcks
    É o método com o qual eu trabalho.
    Dê uma olhada lá. Sempre tem novidades.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. seu blog é maravilhoso,vou postar ele no meu blog,entra la no meu,vc ta de parabéns^^http://dayse177.blogspot.com/

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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