"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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segunda-feira, 1 de março de 2010

EMPATIA, uma preciosa ferramenta!

Descobrir quem somos é uma experiência libertadora!!!
Há 1 ano, descobri o autismo na vida da minha filha caçula(hoje com 4 anos), já percebíamos que o comportamento dela não era comum, porém minha mãe dizia que não era necessário se preocupar pois ela era "igualzinha" a mim quando pequena, mas quando ela foi para a escola não se adaptou e tivemos que procurar ajuda profissional, e veio o diagnóstico: Autista.
Eu não me abalei pois como eu me identificava muito com ela sabia que aquelas dificuldades todas simplesmente faziam parte das características dela, mas ficou aquela interrogação dentro de mim: e eu??? quem sou???
Todo o meu sofrimento com crises nervosas e depressões foram sendo "justificados", porém eu não conseguia compreender.
Toda a família se "agitou" e uma das minhas irmãs trouxe um documentário sobre autismo para eu assistir, era sobre uma família com 6 filhos autistas, com profissionais relatando a rotina da família, e o que mais me chamou atenção não eram as crises de agressividade, o isolamento e a falta de comunicação em algumas das crianças, foi um dos filhos que freqüentava escola regular e quando foi questionado pela terapeuta sobre quem dos colegas da sua sala era seu amigo, ele respondeu: TODOS!
A terapeuta explicou que este era um dos maiores problemas, pois na fase adulta ia ser motivo de muito sofrimento e este comentário ficou na minha cabeça como um tormento pois além de não ter entendido eu me identifiquei com o menino.
Hoje, quase um ano depois, minha filha já está freqüentando escola regular, mas ainda freqüenta a escola especial onde tem tratamento com uma equipe de profissionais especializados e para que minha filha tivesse acesso ao tratamento, tivemos que nos mudar para minha cidade natal, pois a escola especial daqui é excelente.
Fazia muitos anos que eu tinha ido embora e retornar não está sendo fácil.
O motivo de eu ter ido embora daqui foi a minha total falta de "adequação" social e um sofrimento enorme que vinha junto com tudo isso, na época que eu fui embora estava com depressão profunda com tendência suicida (fiz três tentativas).
Desde que voltei vivo reclusa em minha casa, hoje posso dizer que não tenho nenhum convívio social e o convívio familiar é bem precário.
Descobrimos então eu e meu marido sermos portadores do espectro autista, ele Asperger e eu autista de alto funcionamento ou verbal como pode ser chamado o autista que se comunica.
E chegamos na tal da "Empatia", que me remeteu direto ao documentário da família com os seis filhos autistas, e o menino que me chamou atenção, era esta a semelhança com a qual me identifiquei : a falta de empatia.
Segundo o dicionário empatia é:

"Capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se nas mesmas circunstâncias, ou seja colocando-se em seu lugar no sentido abstrato."

"Psicologia e Filosofia Faculdade de perceber de que modo uma pessoa pensa ou sente. Embora não tenhamos conhecimento direto da mente dos outros, muitas vezes podemos fazer suposições bastante precisas acerca da maneira como as outras pessoas sentem ou no que pensam."

"Empatia é, segundo Hoffman (1981), a resposta afetiva vicária a outras pessoas, ou seja, uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à própria situação."

Depois de todas estas definições e as experiências recentes, entendi:
ME FALTA TOTALMENTE ESTA TAL EMPATIA!!

Como viver e conviver sem ela?

Talvez se acreditarmos que conhecendo as próprias limitações conseguimos evitar alguns perigos, como os terríveis constrangimentos que sofremos quando não temos "limite" pela falta de EMPATIA , com muita paciência e resignação vamos reaprendendo a conviver sem esta preciosa ferramenta.

Muita força e coragem!!
Abraço!
P.S.:Deixarei meu e-mail para contato: tidymae@hotmail.com

3 comentários:

  1. oi meu nome é luzia,tenho uma filha diagnosticada asperger aos 4 anos,hj ela tem 7 anos.esta numa escola regular mas ainda nao esta alfabetizada.tenho medo pelo seu futuro,sera QUE VAI APRENDER A LER?fico muito preocupada com esses aspectos. parabens pelo bolg,vc é uma pessoa de coragem,e vai ajudar muita gente... beijosss

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  2. Me separei e hj vejo q meu jeito "estranho" influenciou a queda de meu casamento...sou ansiosa,estranha,prefiro minha cia,e n tenho essa tal empatia.... :(

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  3. Parabéns pela iniciativa de criar este espaço para expor suas experiências e, tenho certeza, está ajudando várias pessoas a também se autoentenderem, e me incluo nisso aí.

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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