"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Ter um discurso sempre muito correto me faz ser cobrada em atitudes que não consigo ter!

Atualmente eu só tenho contato com o mundo externo pela internet, e alguns compromissos formais como reunião de escola e compras no supermercado e só.
Estou vivendo assim desde que voltei para SC para o nascimento da minha filha em 2005, tive início de depressão pós parto e cheguei a conclusão que não aguentava mais fazer tanto esforço para me comunicar e nunca ter sucesso, decidi que só voltaria a interagir quando descobrisse o que acontecia comigo.
Resultado eu e minha filha vivemos reclusas por três anos,pois a minha mãe dizia que éramos idênticas, até minha filha ir para a escola e vir o diagnóstico dela: Autista Clássica.
Aí veio a pergunta: E eu???
Descobri nas primeiras leituras que os autistas podem ser de alto funcionamento e verbais.
Pronto esta era a resposta!
Foi um alívio!
Mas deste dia até hoje já passou muito tempo.
Parece que eu entrei num "vácuo", eu sabia o que acontecia mas não sabia o que fazer, então estagnei mais ainda.
Há uns três meses eu resolvi parar com o tratamento para depressão e com os remédios para fibromialgia ou dor crônica como também é chamada, foi terrível, estava passando férias na casa da minha irmã, que é vizinha da minha mãe, e foram dias bem terríveis.
Mas, eu precisava tentar viver de outra forma, então criei o blog para ver se extravasava tudo o que sentia, era a última tentativa.
E hoje após duas semanas que criei o blog, vejo que está valendo a pena, vi que não estou só nesta situação.
Um dia desses assisti mais um documentário sobre autismo, e no depoimento dos pais de uma menina autista eles disseram que tinha chegado a seguinte conclusão:
"Não cabe a nós julgarmos a qualidade de vida de vida da nossa filha!"

Acho que este foi o meu maior erro: Aceitar que deveria ter a qualidade de vida que todo mundo acha que eu posso ter por ser tão "inteligente"!
Ter um discurso sempre muito correto me faz ser cobrada em atitudes que não consigo ter!
Agora decidi que vou viver com a filosofia do "Só por hoje"!
Estou realmente sem nenhum entusiasmo para mais nada além de cuidar da minha filha.
O desânimo é gigantesco!
Mas, só por hoje vou tentar não desistir!!

Obs.: Se alguém quiser resposta do comentário por favor deixe email para contato. Eu não estou conseguindo responder por falta de endereço.

2 comentários:

  1. Olá, vi a divulgação do seu blog na comunidade da Cláudia, diário de um autista. Como sou blogueira e tenho um irmão autista, resolvi clicar. Amei sua iniciativa de criar um blog, de falar sobre o autismo, tema que estudo há mais de 8 anos já que tenho um irmão autista de 10 anos (quase 11).

    Com seus textos vc ajudará muita gente. Nunca desanime, amo o tema autismo e amo conviver e aprender com o meu irmão e com os vários autistas espalhados pelo mundo. Tbm tenho um blog!!!

    Faça a dieta sem glutem e sem caseína (leite), tire os metais da sua vida e suas dores irão diminuir, seu convívio com o próximo irá melhorar, etc etc. Alimente-se de orgânicos, vc vai ver como tudo vai ficar mais fácil e menos doloroso. Faça a sua comida e a da sua filha, sem glutamato, sem refri, sem corantes e etc...

    No meu blog, na parte da dieta tem uma apostila que a Cláudia fez e eu e minha irmã diagramamos na aba lá em cima sobre a dieta. No final tem o link para download.

    Se quiser trocar experiências, adoraria. Se eu puder colocar seu depoimento no meu blog com link pro seu, ficaria muito feliz e honrada! Beijos!

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  2. Gostei bastante dos seus textos, e principalmente desta filosófia "Só por hoje..." vou tentar aplicar ela em minha vida, copiar os direitos autorais, rs, duas palavras muitos interessantes que reforçam todo esta vida por pessoas que tem funcionamento desta forma, estagnação e vacuo,

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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