Olá!
Ontem eu fui novamente consultar o médico do posto de saúde(SUS) para continuar meu tratamento para depressão e dor crônica que faço com um remédio chamado Sertralina, e faço uso também de anti-inflamatórios.
A surpresa que eu tive é que o médico não atendia mais e a médica que assumiu a vaga foi muito atenciosa, e me encaminhou para o Centro de atendimento psicossocial- CAPS, para que eu tenha acesso a tratamento específico para depressão crônica(endógena), que é a que eu tenho, este tipo de depressão é de origem genética, eu tenho outros casos na família e eu não consigo me livrar dela!!
A médica me orientou sobre o meu sono, pois eu passo o dia todo cansada e sonolenta e a noite não consigo dormir, estou dormindo pouco e isso piora tudo.
Bom, eu não falei para ela sobre a descoberta deste GIGANTESCO traço autístico que eu possuo, mas ela me disse que o terapeuta ocupacional do CAPS poderá me dar dicas de como lidar com a minha situação.
Ontem mesmo fui ao local para marcar minha triagem, confesso que depois das inúmeras tentativas o que me restou foi quase nenhuma expectativa, mas depois da minha leitura do livro "Sindromes Silenciosas" de Jonh J. Ratey e Caterine Johnson da Ed. objetiva fica difícil não buscar tratamento médico, por mim mesma e pela minha família.
Mas o que me impulsiona e ao mesmo tempo me causa desespero é o estado de praticamente "morta-viva" em que eu me encontro, é uma mistura de isolamento total, com exceção da internet, o contato que eu tenho com o mundo real é praticamente o que se faz necessário para a sobrevivência e os cuidados com meus filhos.
Estes dias eu recebi um email surpreendente de uma leitora, eu me identifiquei tanto com o relato que pedi sua autorização para publicá-lo aqui no blog, pois como foi bom para ela ler meus relatos, foi ótimo poder conhecer alguém com uma vivência tão parecida, não sei explicar o porque, mas dá uma sensação de alívio saber que não estou só nesta situação.
Eis o relato:
" olá, grace, passei as últimas horas lendo seu blog e gostaria de agradecer por ele. me identifiquei com muitas, muitas coisas que você escreveu.
sempre me senti estranha, deslocada, sempre fui chamada maluquinha, mau caráter, desequilibrada e arrogante. tenho pensamentos suicidas desde os 5 anos de idade, sempre senti uma tristeza, angústia e isolamento profundo. tenho 30 anos, moro no rio de janeiro e estou no meu segundo tratamento psiquiátrico por causa da depressão. apesar de ter sido diagnosticada como depressiva sempre senti que meu problema era além, apesar de não ter idéia do que era essa outra coisa.
sexta-feira passada, por acaso, encontrei um artigo na internet sobre síndrome de asperger e me vi em todos os sintomas. foi como um luz caísse na minha vida e tudo aquilo que eu não conseguia entender finalmente teve uma explicação. vim de uma família extremamente disfuncional, meu pai certamente tem traços autistas bem definidos, minha mãe e meus irmãos são claramente depressivos, apesar de só eu ir ao psiquiatra e considerada a "louca" da família.
atualmente, meu maior sacrifício é acordar todo dia e ir ao trabalho. sou redatora de uma agência publicitária, não me faltam criatividade nem habilidade com palavras. estou lá há três meses e já sonho com o dia da minha demissão. conviver 9 horas por dia com pessoas que não significam nada para mim é um tormento. sempre que posso, fujo na hora do almoço só para ficar sozinha. apesar da qualidade do meu trabalho ser impecável, já tive a atenção chamada pelo gerente da agência que disse que sou "antissocial e que minha atitude pode atrapalhar a coesão do grupo". por mim, sentaria, faria meu trabalho e iria para casa. interagir, fazer elogios e me inserir nas conversas "de elevador" daquelas pessoas é um sofrimento sem fim para mim.
nas situações da vida em que preciso ser simpática, eu sou. uso minha habilidade com palavras, sorrio e conquisto as pessoas. mas sinto que estou representando e volta e meia dá um curto-circuito e eu fecho a cara e vou embora. consegui construir algumas amizades, mas é esforço para encontrá-los em eventos sociais. converso pelo msn e pegar o telefone e ligar é um horror. aliás, tenho pavor de telefone, deixo sempre na secretária eletrônica para não precisar atender. celular para mim, só pra usar o sms.
claro que namoros também sempre foram um problema. percebo que tenho dois níveis de entendimento. o racional e o outro. racionalmente, entendo quando gostam de mim, que se interessam, mas não acredito. não consigo explicar isso, não entendem como posso sentir duas coisas tão diferentes ao mesmo tempo, mas sinto. nunca digo quando gosto de alguém, simplesmente acho desnecessário e não entendo como alguém pode ser ofender com isso. de maneira alguma me sinto indiferente, mas agora olhando para trás vejo que acham que sou assim.
descobri que não olho no olhos das pessoas. nunca tinha pensado nisso, quando li que este era um sintoma, comecei a lembrar que meus poucos ex namorados sempre diziam "olha no meu olho" e eu achava que era brincadeira ou frescura deles.
fiz psicoterapia a vida inteira, minha última foi com uma psicóloga freudiana que fiquei dos 19 aos 28 anos e ela nunca descobriu meu autismo. um dia me dei alta porque não aguentava mais ouvir que eu precisava me adaptar ao mundo, enfrentar a vida, deixar de ser arrogante, etc, etc. todas as "críticas" que ela me fazia, agora me parecem claramente sintomas do autismo.
hoje me sinto com um peso e um alívio enorme ao mesmo tempo. é como se eu sentisse uma dor extrema sem saber onde, até que fui num médico e ele dissesse que eu tenho um braço quebrado e posso usar um gesso para ser normal. nunca pensei que todas minhas "esquisitices" poderiam ser classificadas como uma síndrome, mas por outro lado sinto um medo enorme. sou autista e o que vou fazer da minha vida? será que vou continuar a vida inteira fingindo ser legal no trabalho, aturando tudo que odeio até me aposentar? será que algum dia vou conseguir mergulhar num relacionamento? será que vou conseguir aprender as regras sociais de convivência?
meu maior alívio é que não estou sozinha nisso e que agora posso aprender a corrigir "meus defeitos" ou pelo menos, compreende-los melhor."
Agradeço imensamente pela autorização para publicar este relato, a oportunidade de conhecer pessoas como
você fazem a vida valer a pena!!Que Deus te dê muita coragem e paz!!
Até a próxima!!
Grace Caroline.
P.S.: Preciso deixar aqui um recado para minha amiga, que já considero irmã, a Karla Coelho, leitora e colaboradora fiel deste blog, pois eu sei que ela se preocupa muito com autistas que fazem tratamento com medicação. A minha condição melhorou com os meus cuidados com a alimentação, mas segundo as orientações médicas eu não posso mais adiar o tratamento com medicação.
Beijo Karla!!
É claro que você não está só estando autista. Primeiro que o mundo tem milhares de autistas e a cada minuto nasce mais um monte. Imagine o espectro autista... de asperger a autismo severo... imagine agora as pessoas com TDAH, mais milhares, imagine agora que ninguém é igual a ninguém (mesmo tendo uma irmã gêmea, como eu, hahaha) então ninguém está só. Falei no blog do seu filho: somos todos diferentes com alguma coisa em comum. Sim, é muito bom achar pessoas que possuem características em comum com a gente mas é muito produtivo também conviver com pessoas diferentes da gente. É nessa hora que a gente evolui. Conviver com pessoas parecidas é fácil demais por isso devemos sair da zona de conforto e tentar melhorar sempre, por mais difícil que isso seja.
ResponderExcluirEu não sou autista mas tenho TDAH (acho que severo), tenho uma irmã gêmea com TDAH, irmã e mãe com DDA (pouca hiperatividade), pai TDAH severo e um irmão autista. Acha que viver rodeada de pessoas com os mesmos distúrbios que eu é fácil? Não. Engraçado que mesmo tendo MUITO em comum com eles, a gente briga, discute e grita um com o outro. Tô escrevendo isso porque se existisse um mundo só com pessoas do espectro autista não daria certo. Haveria discordâncias. E por que no mundo a gente encontra pessoas com distúrbios diferentes, feficiências diferentes? Porque algumas pessoas vêm nesse mundo pra ajudar outras pessoas a crescer, a despir de preconceitos, a aceitar o próximo como ele É. Digo isso porque eu estudava o TDAH antes do Lu nascer mas não levava essa hipótese tão a sério. Quando ganhei meu irmão, comecei a pesquisar, a conhecer e entender muitas coisas e tudo se encaixava. Aí eu acreditei que aquela hipótese era verdade. Que tudo que sofri por achar que era burra e incompetente tinha nome. Que a minha eletricidade e os roxos que eu ganhava por ser desastrada faziam parte de um distúrbio. Quando ganhei meu irmão eu aprendi a não julgar o próximo porque é muito ruim ser julgado, aprendi a usar melhor as palavras, aprendi que uma criança dando birra na rua pode não ser falta de educação e sim crise... e etc etc.
Falei isso tudo mas eu entendi o seu sentimento quanto a não estar só... (Mas quis dar um puxão de orelha pra todas nós querermos viver esse mundo, mesmo com nossas dificuldades!) dá realmente um alívio ver que outras pessoas passaram (ou passam)justamente o que passamos. Quando o Lu foi diagnosticado eu li milhaes de depimentos em blogs pra saber os sentimentos das pessoas e como elas estavam fazendo para ajudar a criança. No blog do Lu tem uma parte de depoimentos porém lá procuramos colocar depoimentos com finais esperançosos, com soluções, depimentos mostrando que o autismo é tratável. Depoimentos ajudam demais pois a linguagem é fácil e vc sabe que é uma história vedadeira como a sua.
Como tenho muitas características autísticas, me identifiquei muito com o depoimento acima. Sou publicitária tbm, rs. Quando eu penso que muitos TDAHs e muitos autistas morrerão sem diagnótico, eu fico triste. Os profissionais não estão preparados para diagnosticar ninguém, em nenhuma idade (salvo alguns). Ainda bem que há blogs como o seu, de autistas adultos. Ainda bem que vc abriu sua identidade, ainda bem que Deus te deu uma filhota autista. A leitra do depimento de hoje tem duas notícias boas: 1: ela já sabe o seu diagnóstico e 2: autismo é tratável. Melhore a alimentação, procure um ortomolecular se tiver condições e equilibre seu corpo, tome florais de Bach para medo, etc, tente ser mais sociável explicando com educação aos outros o que vc gosta e o que vc não gosta. Faça reuniões íntimas na sua casa, para poucas pessoas, isso vai ajudar você a começar a se socializar melhor e tirar a idéia dos outros de que é anti-social. Leia livros e estude bastante o autismo. "Olhe nos meus olhos" é um livro de um cara que foi diagnosticado aos 40 anos. Se tiver algum problema intestinal ou muita gripe, rinite, etc, faça a dieta SGSC, tome o suco verde.
Beijos
Meu coment não estava sendo aceio por ser grande demais (falo damsi, aff)... o restante:
ResponderExcluirA internet me deixa tão feliz... que invento perfeito né? perfeito não é porque muitas pessoas a usam para o lado negativo mas quem sabe usar a rede, se dá bem. Eu tinha certeza absoluta que você ia ajudar muita gente com esse blog mas eu tinha mais certeza ainda que vc ia se ajudar muito. Aqui vc desabafa, fala dos seus problemas e não se sente só, aqui você faz companhia e sente a companhia de pessoas que estão a km de distância... louco isso né?
Grace, eu não gosto de remédios mas respeito muito quem toma. Acho que algumas pessoas PRECISAM de remédio mas acho que ninguém pode ser dependente de química pro resto da vida. Eu não sou médica e o profissional sabe o que faz. Só acho que você deve tomar tbm florais de Bach e fazer suco verde já que a maçã é antioxidante!
Talvez meu comentário de anterior tenha ficado confuso, só eu sei o tanto de coisa que passa pela minha cabeça ao escrever um comentário, hahaha.
Beijos!
Olá Karla,
ResponderExcluirMuito obrigada por vc existir nas nossas vidas!
Sua mensagem é enriquecedora!!
Beijo!
Oi Grace... adorei o post e tenho que confessar uma coisa: meu TDAH me impediu de dar a minha opinião mais cedo... eu entrei diversas vezes no seu blog mas ao ver esse texto enorme eu desanimava e pensava: ai, tenho que voltar com mais calma... e fiz isso mais de 3 vezes acredita? Isso é ter TDAH... é impaciencia com coisas que podem me fazer muito bem... é um desanimo que vem não sei de onde pricnipalmente quando estou quase chagando lá... nós que temos esse disturbio amamos o desafio mas quando estamos perto de conseguir o tesão vai embora... Sou agitada, falo demais, não tenho foco, gosto de trabalhar sobre pressão, sou distraida e as vezes nem tenho vontade de me levantar pra ir trabalhar... e as vezes quando levanto fico muito feliz e grata por ter tido força de vontade!
ResponderExcluirO pior de ser diferente da maioria das pessoas a nossa volta é a falta de compreensão e o préconcecito ( que como a propria palava diz, é um pre julgamento e uma não aceitação antes de conhecer).
Viver não é facil pois essa escola nos traz muitas provas e temos que ser fortes para passar por elas e tirar aprendizado de tudo...
não minha amiga, você não está sozinha.. pode ter certeza! A vida não é fácil pra ninguém... nem pra mim, nem pra você e nem pro Sílvio Santos que é rico e nos passa a imagem de que pode tudo...
A vida foi feita para nos desafiar seja por meios do modo social, seja por meios do modo afetivo ou financeiro...
Que bom que você está buscando se conhecer e esta partilhando a sua experiencia conosco, servindo a cada dia de estimulo para nossa caminhada!
Que bom que as pessoas boas estao aparecendo no seu caminho e que você está tendo um tratamento...
Se os médicos não têm coragem de diagnosticar as pessoas (porque acho que mais que conhecimento, falta coragem), vamos a luta pesquisar a forma de agir para melhorar nossa qualidade de vida cada dia mais!
Que bom que está se alimentando melhor... :)
Vença essa depressão que é pequena perante sua força de lutar e ajude quantas pessoas puder... porque esse é nosso maior objetivo de vida: ser melhor para melhorar o próximo... e rezo todos os dias e me coloco a disposição de Deus para que eu possa alcançar muitos autistas e pessoas que estão dentro do que posso fazer para melhorar sua vida!
Beijos e obrigada por nos ensinar tanto e nos transmitir tanta força!
Conto com você para um mundo melhor!
Olá amiga, ano pasado trabalhei com autistas, dando aula de arte e música. Me interesso muito pela área.
ResponderExcluirAdorei seu blog e já estou seguindo!
Beijos!
http://myblogsaborear.blogspot.com