"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

Seguidores

segunda-feira, 30 de maio de 2011

AUTISMO É DOENÇA DE RICO ???!!

Olá!


Hoje ao acessar o  Blog da Raquel   me deparei com a seguinte denúncia:

"PÁDUA ARAÚJO - QUE HOMEM PEQUENO!! QUE FEIO É SER VOCÊ 
Raquel, aqui em Teresina (PI), um locutor meia boca da TV MEIO NORTE (Programa Patrulha), e-mail: meionorte@meionorte.com, acabou de dar a declaração ao vivo que AUTISTA É DOENÇA DE RICO QUE É PARA NÃO DIZER QUE É DOIDO. Por favor, divulgue o máximo que puder."
A indignação é imediata, e me faz repensar os motivos que me fizeram deixar de escrever aqui no blog.

De certa forma fui me contaminando com alguns pensamentos de que meu traço autístico seria mais um de meus "chiliques de menina mimada".

E consigo perceber agora que uma das causas da minha depressão é dar ouvido a estas infâmias, porcarias que se dizem dos transtornos mentais, especialmente do autismo, pois em alguns casos temos a "inteligência" preservada e o que se espera é que esta "inteligência" seja usada para controlar as crises.

Enfim, como diz o ditado: " A ignorância é que impede a evolução da humanidade."

Divulguem!

Abraço fraterno,
Grace Caroline.

2 comentários:

  1. Grace, não pare de escrever aqui por favor! Eu adoro sua forma de traduzir pra gente os sentientos de um autista, a forma de pensar... sei que o meu pedido é um pouco egoísta mas tbm penso que aqui vc pode desabafar, trocar idéias, fazer amizades! E ó, devemos ver essas coisas que acontecem como uma forma de crescimento e de estímulo para querermos melhorar cada vez mais... esse locutor me fez ter mais vontade de mostrar pro mundo que o autismo não é invensão, ne frescura e nem termo de gente chique pra esconder loucura... me fez com vontade de mostrar o quanto o autismo melhora as pessoas e as faz ver o mundo bem melhor do que ele... quem dera se ele pudesse conhecer o Lu... :)
    beijinhos e não someeeeeeeeeeee

    ResponderExcluir
  2. Faço minhas as palavras da minha mana... ADORO passar por aqui, saber de seus sentimentos, saber como vc está, o que vc pensa, ler os textos que vc escreve ou coloca aqui na net... esse espaço é enriquecedor, não SUMA!

    Não ligue pro que os outros vão achar... outro dia o Rafinha Bastos falou: "Déficit de atenção... é a medicina tentando diminuir o sofrimento dos pais por terem dado á luz a um filho idiota" Eu não em sinto uma idiota e sim acho ele um idiota... isso me leva a querer provar que TDAH existe, que autismo existe e que são distúrbios tratáveis...

    Vc é uma super mulher, super mãe, super amiga, espero que use seus poderes especiais para ficar feliz e ajudar o próximo, escrevendo sempre e trocando experiências através deste blog!

    Beijos!

    ResponderExcluir

Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


Publicações do blog (arquivo):