"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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quarta-feira, 10 de março de 2010

O autismo de alto funcionamento quase sempre é confundido...

Demorei muito para colocar em prática a idéia do blog, desde pequena eu tento me comunicar por cartas com as pessoas que eu queria me relacionar, mas como sempre foi um desastre estas tentativas de escrever, então eu tinha um medo enorme de escrever estes relatos para o blog.
Hoje eu preciso muito agradecer a todas as pessoas que tem me escrito para falar do blog, pois estou me sentindo muito melhor, parece que pela primeira vez na minha vida eu estou me comunicando "através de mim mesma" e não através de uma "personagem".
Quando era criança me comportava como adulto mas no fundo queria ser respeitada como criança, agora que sou adulta me comporto e sinto tudo como se fosse uma criança, mas preciso ser respeitada como adulta, então quando me vejo estou representando o papel de adulta, mas sem ter a segurança de um "adulto amadurecido".
Esta inadequação toda é algo terrível! Pois nunca nos realizamos quando nos relacionamos, é sempre tudo muito "falso"!!!
Esta "representação" fere, machuca, cansa, acaba com toda minha vontade de viver e me relacionar com o mundo lá fora!
Porque eu não posso ser eu mesma sempre?
Porque eu não posso viver em paz?
É claro que eu sei que nunca vou ser respeitada se me comportar como uma criança que pergunta tudo o tempo inteiro, que fala tudo o que pensa, e que quer atenção incondicionalmente.

Mas o pior e mais inadequado comportamento de uma autista adulto é "falar tudo que pensa" é o que realmente acaba com todas as chances de relacionamento saudável!!!

Já falei nas publicações mais antigas do blog sobre: Empatia.
A empatia é uma característica que não temos, mas também sofremos por ver o que acontece a nossa volta, porém muitas vezes não nos identificarmos e aí é que surgem os comentários e atitudes inadequados.
Isto,as vezes, é até bem tolerado em crianças que são normalmente irreverentes, nos adolescentes também pois são considerados "rebeldes", mas em adultos é absolutamente reprovável.

Eu só me dei conta do fato de ser infantilizada quando entrei para a fase adulta, mas ter consciência deste fato não me ajudava em nada.
Acho que ter esta consciência acabou mascarando, escondendo o autismo.
Segundo o comentário de uma leitora do blog sobre meu depoimento inicial, esta infantilização é realmente confundida pelos profissionais:

"Esta é a história de todas nós, autistas,ela conseguiu exteriorizar muito bem o que se passa por cada fase...da infância até a idade adulta.
Da precocidade na infância , quando nos comportamos como pequenos adultos, a infantilização na idade adulta...isso que os profissionais confundem com queimas de fases( adolescência tardia, por ex.), mas não é assim...não é isso. Nosso processo de amadurecimento é diferente.
"

Estou aprendendo muito com esta experiência do blog, realmente está valendo a pena!!

E sobre o pedido da seguidora Amanda, para que eu escreva sobre a minha infância, pode ter certeza que farei muitos relatos sobre a minha "tenebrosa" infância!!

Abraço e que Deus abençoe todos vcs e muito obrigada mais uma vez por todos os comentários, para mim eles são como uma jóia preciosa!!

tidymae@hotmail.com

7 comentários:

  1. Olá Tidy,como foi e quando foi que recebeu o diagnóstico de autismo? você ainda era criança?
    E hoje,que você sabe dessa condição o que mudou para você? Beijos

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  2. Olá Michele!
    Foi no ano passado com 37 anos.
    Minha mãe não achava necessário que eu levasse minha filha ao médico, dizia que o problema da minha filha era ser igual a mim.
    Quando veio o diagnóstico da minha filha de "autismo clássico de alto funcionamento não verbal" e a única diferença comigo é que eu sou verbal então veio o esclarecimento, eu também sou autista.
    A minha filha ainda pode adquirir a linguagem verbal, ela só tem 4 anos.
    Eu tenho apoio da terapeuta que acompanha minha filha na escola especial que ela freqüenta.
    O que mudou para mim, foi que eu sai de uma condição de ignorância profunda de "mim mesma", foi um alívio, um sentimento de ter recebido uma "carta de alforria", foi ter a oportunidade de ficar livre de qualquer jugo ou domínio, oportunidade de ganhar minha independência.
    O conhecimento da minha condição de autista, não foi uma oportunidade de justificar meus "ERROS", mas sim a oportunidade de tentar ser aceita do jeito que eu sou, mas não está sendo fácil, porque eu me sinto constrangida, acuada, e ainda não sei lidar comigo mesma, pois até hoje eu fui uma pessoa submissa, dependente, escrava da opinião alheia por não me conhecer, não entender minhas próprias atitudes.
    Não sei se vou conseguir ser respeitada algum dia como eu gostaria de ser, mas pelo menos pra mim, meu marido e meus filhos foi um alívio!!
    Abraço e fico a disposição para qualquer esclarecimento.
    Fica com Deus!

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  3. imagino como deve ter sido difícil pra vc. descobrir que meu filho era autista foi um alívio também, porque minha família dizia que eu era louca e que o Breno não tinha nada.Fiquei aliviada com o diagnóstico porque apartir daí eu saberia em que caminho me guiar para iniciar seu tratamento. Meu e-mail: michelesenra@click21.com.br. Bjs

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  4. OI TIDY MEU NOME É LUZIA SOU MAE DE UMA MENINA ASPERGER,SEU BLOG ESTA SENDO MUITO BOM PARA MIM,ASSIM CONSIGO ENTENDER MELHOR MINHA FILHA. VOCE É UMA PESSOA ILUMINADA,CORAJOSA. BEIJOS FIQUE COM DEUS

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  5. oi amanda eu acho que sou autista de alto funcionamento não tnh certeza,na verdade eu ñ tnh certeza de nada,antes eu achava que era bipolar,pois pensava que autisma obrigatoriamente na soubesse falar so emitir sons esquisitos que nem aqueles autistas que vejo em filme,so que agora eu se desta "categoria"de autismo.eu começei a falar com 3 anos de idade,antes disso so sabia apontar pros objetos que eu queria e fazer hum,hum...e mesmo assim qd eu começei a falar aos 3 anos falava muito errado,trocava o r pelo l,falava siclete ao invez de chiclete,e outras coisas que me fazia ser motivo de riso na sala de aula.Me considero muito inteligente,muito responsavel,so que como vc disse me sinto uma adulta de 20 anos com a inexperiencia social de uma criança de 10.Nunca namorei e a minha mãe tem a coragem de dizer que porque eu não olho as pessoas nos olhos,e o pior que é verdade.Eu não aguento mais eu quero ser normal,eu quero ter amigos,quero namorar,quero fazer o que todo mundo normal faz e que pra mim é tão dificil

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  6. meu Deus eu acabei de ler a sua historia de vida ai do lado ate agora eu so tinha lido o texto acima,mais agora eu vi que vç tambem achava que era bipolar,eu achei que era isso durante muito tempo...mais agora sei que não é...por favor me ajuda,tnh vergonha de ir numa psicologa(olha que ironia fiz vestibular pra psicologia e passei mais ñ curso)por favor ficaria muito agradecida se a gente pudesse se falar por msn

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  7. Tidy, por favor, pode entrar em contato comigo. elainezufi@hotmail.com.abraços.

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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