"...é concebível que acabemos descobrindo mais e não menos mulheres autistas, assim que examinarmos melhor; talvez a célebre vantagem feminina na linguagem e inteligência social proteja algumas mulheres, nascidas com a herança genética do autismo, excluindo-as da categoria diagnosticável de "autismo de alto funcionamento" e incluindo-as na forma disfarçada e não manifesta do distúrbio.(...)" (John J. Ratey e Catherine Johnson, no livro "Síndromes Silenciosas", p.235 Ed. Objetiva)
"A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois". (Arthur da Távola)

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sábado, 20 de março de 2010

Só por hoje...

Eu sei que muitas pessoas "normais" devem ficar pensando porque eu sofro tanto, já que me comunico e me expresso bem, porque eu uso as expressões "padecer", "desespero", "sofrimento", "culpa", e um sem fim de lamentações.
Pois bem, eu mesma ao acordar hoje me perguntei o porque de tanta dificuldade para me aceitar, mas pensando bem são quase quatro décadas numa total ignorância, então resolvi me dar um crédito, mas estar dependente financeiramente, e não ter um centavo nem para comprar um lápis sequer, a não ser que meu marido me dê, é uma situação no mínimo constrangedora e não me ajuda muito, por mais crédito que eu me dê, fica difícil vislumbrar alguma mudança.
No livro que eu estou lendo(Síndromes Silenciosas), o autor comenta o lema: "Viver só por hoje!" ou "Um dia de cada vez!" que os Alcoólicos Anônimos seguem, e o qual eu mesma me referi anteriormente que era a maneira de viver que eu tinha encontrado, não por ser dependente química, mas para viver nesta limitação que o autismo e a depressão me proporcionam.
O autor diz:
"Embora esse lema tenha salvo muitos dependentes, o futuro se desfaz quando SÓ se vive um dia de cada vez."
É isso aí!
Sem contar que eu ainda não me conformo em não ter uma disposição física que me permita ter uma vida ativa e produtiva, nem os trabalhos manuais que sempre ajudaram eu não consigo mais fazer.
Hoje eu já sei que se mudar a alimentação vou melhorar a minha condição, pois existem estudos que mostram a influência da alimentação na qualidade de vida dos autistas, mas preciso de muita determinação, força de vontade e coragem para mais esta mudança...
Minha filha nasceu exatamente quando eu não via mais nenhuma possibilidade de viver desta maneira, hoje ela só tem 4 anos, mas é minha guia e mentora nesta vida "diferente", pois no mundo dela não existe culpa, vergonha, críticas...ela simplesmente é o que veio para ser:
Um anjo nas nossas vidas, totalmente alheia a estas porcarias que nos atrapalham tanto!

Abraço! Bom fim de semana a todos!!
tidymae@hotmail.com

P.S.: Este vídeo foi publicado esta semana pela Amanda no blog "Caminhos do Autismo":
http://caminhosdoautismo.blogspot.com/ , visitem é fantástico para ficar atualizado com as mais novas descobertas!!!
E eu senti a nessecidade de publicá-lo também, pois o menino é muito assertivo e feliz no seu relato, realmente vale a pena assistir!

2 comentários:

  1. A dieta sem glutem e sem caseína (leite) é um tratamento fantástico. Posso afirmar isso porque além de conhecer inúmeras famílias beneficiadas, meu irmão é outra criança depois que começou a fazer dieta. Siga essa dieta para o seu bem e principalmente para o bem de sua filha que não tem a flora intestinal formada e vai melhorar MUITO. Mas tirar apenas o glutem e o leite não adianta. Nada de alimentos industrializados, nada de alimentos com corantes, aspartame, conservantes e etc, nada de muito açúcar... viver uma vida saudável, voltar no tempo da vovó melhora a vida de todas as pessoas.

    Não sei quais as condições físicas te atrapalham mas se vc montasse uma horta em casa com couve, tomate cereja, ervas, cenoura, etc você iria melhorar a sua vida e a da sua família e poderia vender. Nada de agrotóxicos. Alimentos orgânicos, livre de metais (os autistas não eliminam metais como os neurotípicos).

    Não precisa parar de comer pizza, pão, bolacha, etc quando se deixa de comer leite e glutem mas precisa sim, ao invés de comprar produtos caros em lojas especializadas, ir pra cozinha, preparar tudo de uma maneira diferente e mais saudável e quem sabe vender.

    Quando se para de comprar alimentos industrializados e se passa a comer com saúde, a gente economiza. Digo isso porque eu e Luiza estamos gastando cada vez menos no supermercado. Nada de caldos, nada de refigerante, nada de salgadinhos e bolachas... Cozinhar é uma terapia. Ouvir elogios de quem come é fantástico! Viva os vegetais e grãos! Viva as frutas e sucos!

    Mudar hábitos é difícil sim mas graças a Deus os autistas possuem um tratamento completamente natural: mudar alimentação!

    Te aconselho a tomar florais de Bach, conhece? Te ajudará a enfrentar certos medos, certas aflições!

    Se deixar eu fico horas falando desse tema. Leia no meu blog, nas categorias do lado doreito sobre a dieta e sobre congresso sp.

    E sim, apesar de não praticar tanto o carpe diem (viva o hoje sem pensar no futuro) acho super válido viver cada dia intensamente dizendo pra filha, marido, amigos que ama eles, comendo uma comida gostosa, passeando, dando risada, se vestindo bem pra ter auto estima elevada, fazendo exercícios etc etc.

    Beijokas!

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  2. AMEI o vídeo pois é muito esclarecedor.

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Autismo de alto funcionamento:

"Eu gostaria de acentuar que chamar este transtorno de autismo de alto funcionamento, é inadequado porque o termo sugere que o autismo é de alto funcionamento, que o autismo é leve, quando na verdade o que você está querendo é denominar uma pessoa de alto funcionamento com autismo.

Então, essa pessoa pode ter um bom QI ou uma boa compreensão verbal ou uma boa expressão verbal, mas seu autismo é normalmente tão grave quanto o de uma pessoa descrita com autismo de baixo funcionamento.

Então, por favor: usem alto funcionamento para a pessoa, não para o autismo, de maneira a permitir uma compreensão mais profunda de quão grave o autismo pode ser, mesmo para alguém com Síndrome de Asperger..."

(Dr. Christopher Gillberg, em out/2005 no auditório do InCor em SP)

Dr. Simon Baron-Cohen, diz no seu livro "Diferença essencial: a verdade sobre o cérebro de homens e mulheres.":

"...Dirijo uma clínica em Cambridge para adultos com suspeita de serem portadores da síndome de Asperger. Esses indivíduos não tiveram os problemas detectados na família nem na escola enquanto ainda eram crianças.

Assim, atravessaram a infância e a adolescência aos trancos e barrancos, e chegaram à idade adulta acumulando dificuldades, até serem encaminhados à nossa clínica, desesperados pela falta de integração, por se sentirem diferentes.

Na maioria dos casos, esses paciente sofrem também de depressão clínica, já que não encontram um ambiente, em termos de trabalho e de companheiro(a), que os aceite em sua diferença. Querem ser eles mesmos, mas são forçados a "vestir" um personagem, tentando desesperadamente não ofender, dizendo ou fazendo a coisa errada, e ainda assim, sem saber quando vão receber uma reação negativa ou ser considerados" seres estranhos".

Muitos deles se esforçam em administrar um enorme conjunto de regras relativas ao comportamento em cada situação, e consultam de minuto a minuto uma espécie de tabela mental, buscando o que dizer e o que fazer. É como se tentassem escrever um manual de interação social baseado em regras de causa e efeito, ou como se quisessem sistematizar o comportamento social, quando a abordagem natural à socialização deve ser através da empatia.

Imaginem um livro bem grosso de etiqueta sobre como agir em jantares,...mas escrito em detalhes, para cobrir todas as eventualidades do discurso social.

Claro que é impossível aprender tudo, e embora alguns desses indivíduos brilhantemente quase consigam, acabam fisicamente exaustos. Quando chegam em casa depois do trabalho, onde fingiram interagir normalmente com os colegas, a última coisa que querem é socializar. Só pensam em fechar a porta do mundo e dizer as palavras ou praticar as ações que tiveram de reprimir o dia todo.

Gostariam que os outros dissessem o que pensam e que eles pudessem fazer o mesmo; não entendem porque não podem.

É difícil para eles compreender como uma palavra sincera pode ofender ou causar problemas sociais."...

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


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